Por FRANCESC MIRALLES
Acostumados a acompanhar as mudanças do mundo pelas notícias, podemos até acreditar que as coisas que acontecem são totalmente alheias a nós, e que a única coisa a fazer é aceitar as circunstâncias. Se são adversas, então só cabe esperar que mudem. Esta espera de tempos melhores evidencia um fato relevante: cada pessoa, com seus pensamentos e atos, tem um poder notável para configurar a própria realidade.
Como reza uma lei do mítico Hermes Trimegisto, “se você muda, tudo muda”. Em nossas mãos está decidir nossas expectativas e o tipo de relação que estabelecemos com o mundo, o que acaba definindo em grande parte como será nossa vida. Em um nível inconsciente, nossa mente guia nossos atos para permitir que aquilo em que acreditamos que acontecerá possa se tornar realidade. Consequentemente, a pessoa que está convencida de que vai seduzir alguém ou realizar uma venda, para dar dois exemplos, tem uma probabilidade muito maior do que quem tem a expectativa oposta.
É o que o sociólogo Robert K. Merton chamou de profecia autorrealizável. Nossa conduta está condicionada pelo que prevemos que vai acontecer. Assim, tomando um dos exemplos anteriores, o vendedor que está seguro de poder fechar a venda age com uma serenidade e uma convicção que dão a confiança necessária ao cliente para aceitar o acordo, enquanto que quem se programa esperando o fracasso agirá de forma duvidosa e nervosa, transmitindo essa mesma mensagem ao comprador, que ficará na defensiva.
Em seu livro ¿Y tú qué crees?, Eva Sandoval explica deste modo como age nossa programação para o sucesso ou o fracasso: “Há muitas pessoas que não veem seus desejos satisfeitos, que vivem um projeto falido depois do outro, que, apesar de fazer terapia, ler livros e assistir seminários, sentem como se estivessem no início. Chegam a pensar que têm má sorte, que lhes falta algo que outros têm… No entanto, a sorte delas raramente mudará a menos que tomem consciência das crenças limitadoras que condicionam suas vidas”.
Algumas dessas crenças limitadoras, ocultas no inconsciente mas ativas, seriam:
– Não mereço que as coisas funcionem bem para mim.
– Há outras pessoas muito mais capacitadas do que eu para isso.
– Se eu conseguir, os outros terão inveja e não gostarão mais de mim.
Há inúmeras mensagens de autoboicote como estas que condicionam o que dizemos e fazemos e que, portanto, nos trazem resultados negativos. Apesar disso, se tomamos consciência delas, temos a oportunidade de mudá-las e, assim, dar uma virada em nosso destino.
Há duas maneiras básicas de compreender nossa existência: no âmbito das carências (o que nos falta) ou no âmbito das oportunidades (aquilo que nos é oferecido). Dependendo do ponto de vista, estaremos permitindo que aconteça um ou outro tipo de coisas.
Segundo o escritor e palestrante Brian Tracy, “uma pessoa não obtém na vida o que quer, mas o que espera. Nunca podemos nos colocar acima das expectativas que temos de nós mesmos. E a boa notícia é que podemos construir as nossas próprias expectativa. Uma atitude de expectativa positiva é a marca da personalidade superior”.
Um enfoque favorável sobre os acontecimentos implica não só em confiar em si mesmo, mas também na disposição dos demais para colaborar conosco e nos ajudar em nosso caminho.
Por trás de muitas experiências de fracasso está a profecia autorrealizada de que não encontraremos apoio para o que nos propusemos ou, pior ainda, que o resto do mundo fará o impossível para tentar nos deter. Mas antes que isso aconteça, a mente inconsciente já se encarrega de dinamitar o caminho no sentido da realização de nossa meta. Assim, podemos dizer a nós mesmos e aos outros: ‘Está vendo? Eu disse que isso ia acontecer’.”
Essa atitude de autoboicote é inconsciente, mas suficiente para nos darmos conta de que agimos por meio dela para contornar nossa programação. Como afirma Brian Tracy em seu livro Way to Wealth (a caminho da riqueza, sem edição em português), “como só você pode dominar seus pensamentos, está no controle total de sua vida. Se quiser mudá-la no plano exterior, só tem de se por a trabalhar para mudar seu interior. Segundo as leis universais da mente, à medida que seu mundo interior muda, o mundo exterior também mudará para se adaptar ao primeiro”.
Um relato tradicional comentado por Paulo Coelho conta que Caim e Abel chegaram a um grande lago e se aproximaram da margem para contemplar suas águas.
— Tem alguém aí dentro — comentou Abel ao irmão, sem se dar conta de que estava vendo o próprio reflexo.
Em alerta, pensando se tratar de uma criatura ameaçadora, Caim levantou seu bastão e se aproximou das águas. Ao ver que a imagem fazia o mesmo, permaneceu muito quieto esperando o golpe.
Ao seu lado, Abel olhava a própria imagem no lago, que lhe deu um sorriso. Isso provocou uma gargalhada, e o ser do lago fez o mesmo.
Ao afastarem-se dali, cada um dos irmãos saiu com uma experiência oposta. Caim se dizia: “Que violentos são os seres que vivem no lago!”
Já Abel pensava: “Que lugar agradável! No lago vivem seres amáveis e risonhos”.
Esta fábula ilustra de forma reveladora como nossas relações com os demais estão marcadas por nossas ideias preconcebidas. A pessoa que vê todo mundo como uma ameaça age com tal desconfiança e agressividade que provoca essas mesmas atitudes da parte dos demais. Por sua vez, se mostramos uma expectativa de bondade e colaboração, atrairemos pessoas do mesmo tipo.
Para transformar nossa existência em algo muito melhor não basta modelar apenas nossa mente, confiando tudo à lei da atração. Essa mudança fundamental não produzirá frutos se não a acompanhamos da criação de novas circunstâncias.
É como explicou Álex Rovira ao analisar as chaves de seu primeiro best-seller: “Se agora não temos boa sorte, talvez seja porque as circunstâncias são as mesmas de sempre. Para que apareça a boa sorte é conveniente criar novas circunstâncias e o melhor para isso é fixar-se nos erros. O erro é a base da mudança, e isso é importantíssimo. Charles Darwin, por exemplo, sempre carregava uma caderneta para anotar tudo aquilo com que não concordava. Sabia que, do contrário, o subconsciente faria com que esquecesse. Darwin entendeu que inspirando-se no erro poderia conseguir seu objetivo. Dessa caderneta saíram as ideias de seu livro A origem das espécies”.
Além de optar por um enfoque positivo da realidade, estando atentos às oportunidades, se nos comunicamos e agimos melhor, estaremos criando novas circunstâncias que nos trarão resultados mais favoráveis.
Para aumentar a qualidade de nossa vida temos de começar mudando o cenário de nossos pensamentos e atos, em vez de perder tempo e energia escolhendo inimigos ou tentando mudar os outros.
Fonte indicada: El País