Se você se relaciona com um artista, leia esse texto

Por que será que os melhores amigos dos artistas geralmente não são outros artistas? Porque artistas são demasiadamente intensos e muitas vezes precisam de pessoas mais ponderadas e moderadas para manter o equilíbrio emocional.

É claro que existem as exceções e que os artistas possuem bons amigos nos seus meios de trabalho; que a troca entre artistas é sempre rica e acaba frutificando suas artes, mas, em geral, os amigos do peito, os amigos pau pra toda obra, os amigos confidentes não são artistas.

Todavia, se relacionar com um artista sem ser artista dá um baita trabalhão. Eu dou um trabalho do cão para os meus amigos e agradeço todas as noites por eles ainda não terem desistido de mim.

Recentemente li o texto “Se você namora um (a) artista, leia esse texto“, de Pedro Salomão, e, além de ter concordado com os tópicos apresentados pelo autor – sendo alguns deles “o artista precisa de um tempo sozinho”, “o artista tende a ser dramático com seus sentimentos”, “ou ele está SUPER ENTUSIASMADO ou 100% desinteressado”, entendi que as dicas eram válidas não apenas para quem namora um (a) artista, mas para quem se relaciona com eles de modo geral. Além disso, senti falta de alguns apontamentos.

Ao se relacionar com um artista, você tem que ter em mente:

  1. Uma simples conversa entre vocês pode virar matéria-prima: o artista se alimenta do que ouve, vê, percebe, sente. Se você contou uma boa história para ele, se falou algo que ele considerou interessante (ou que ele considerou ofensivo); se vocês discutiram, se você postou algo em suas redes sociais… Cedo ou tarde você poderá encontrar vestígios desses acontecimentos na obra do artista. Woody Allen, por exemplo, já relatou em entrevistas que perdeu inúmeros amigos por usar neuroses deles como matéria-prima em seus personagens. Se isso é um problema para você, talvez você não esteja preparado para se relacionar com um artista.

2. Artistas são carentes por natureza: de uns tempos para cá a palavra “carência” foi associada à lepra, ninguém gosta de assumir que é carente. Porém a carência nada mais é do que falta e todos nós somos faltosos por natureza. Não fossem as faltas, os artistas não criariam. Se tudo fosse uno, perfeito, encerrado, completo, inteiro, não existiria o desejo e sem desejo não existiria vida e o artista não teria o impulso de (re)criar absolutamente nada. Mas se a carência faz parte da condição humana, nos artistas ela parece ser redobrada. Artistas estão sempre em estado de busca constante, inclusive de afeto, atenção e aprovação.

3. Artistas podem parecer imperativos: uma das frases que os artistas mais gostam de dizer é “você tem que”: “você tem que assistir a esse filme”; “você tem que ouvir isso”; “você tem que comer naquele restaurante”. Não, artistas não fazem isso porque querem dar ordens ou porque acham que sabem mais do que você, simplesmente são pessoas intensas que quando gostam de uma coisa, GOSTAM MESMO, e desejam partilhar a alegria com aqueles que amam.

4. Artistas são mimadinhos: pode haver exceções, afinal, elas sempre existem, mas eu desconheço um artista que não seja mimadinho. Por mimadinho, entenda: só fazer o que ele está a fim, querer ter sempre a palavra final, achar que está sempre certo, ser teimoso, querer uma coisa e cinco minutos depois não querer mais, falar o que quer e bem entende, mas nem sempre ouvir o que não quer, etc.

5. Artistas costumam ser inseguros e morrem de medo da rejeição: certa feita ouvi por aí que por trás de todo grande artista existe um grande bullying. Sim, em geral, se olharmos as histórias dos grandes artistas, veremos que eles sofreram grandes injustiças, como abandono, marginalização, preconceito, abuso na infância e/ou na adolescência e em alguns casos pobreza extrema. A arte costuma ser o veículo onde eles expurgam seus fantasmas. Frágeis emocionalmente por natureza, até mesmo o mais imponente ou renomado dos artistas mantém sua criança acuada adormecida dentro do peito e qualquer vestígio de rejeição pode acordá-la e ser fatal. Artistas estão sempre em busca do amor e temem perder o afeto dos que lhe são caros.

Ou seja? Somos pessoas iguais a outras quaisquer, porém, com uma dose (ou duas) de uísque acima (ou abaixo); exageradas, apaixonadas, pulsantes, viscerais.

Conviver com um artista pode ser o céu e o inferno ao mesmo tempo. Depende de como ele vai acordar. Se ele vai acordar jazz ou blues. Mas uma coisa é certa: quando você tem o amor de um artista, ele é para sempre! Porque os artistas amam de amor e são leais às pessoas que amam. Quando um artista ama, ele ama pra valer! Ele ama de maneira profunda, sincera e verdadeira. Se você tem o amor de um artista, você tem tudo!

Mônica Montone

Mônica Montone é formada em Psicologia pela PUC-RJ e escritora. Autora dos livros Mulher de minutos, Sexo, champanhe e tchau e A louca do castelo.

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