Marcel Camargo

Se você tem que mudar para ser aceito por um grupo, esse grupo não é seu.

O ser humano ainda não consegue lidar direito com a rejeição, seja qual for o setor de sua vida. A necessidade de aceitação acompanha as pessoas desde a infância. Quando crianças, necessitamos da aprovação dos pais; quando adolescentes, queremos ser aceitos pelos amigos. E, embora na fase adulta tenhamos que nos tornar autônomos o bastante, para não termos que dar importância às opiniões alheias, infelizmente ainda se veem muitos crescidos clamando pela aceitação do outro.

Teríamos que ter amor próprio e autoestima suficientes para que não relevássemos, por exemplo, o que pensam de nós as pessoas ao nosso redor que não estejam incluídas em nossas vidas. Isso porque, ponto pacífico, caso o indivíduo não esteja incluído nas escolhas do outro, elas não são de sua conta – ou não deveriam ser. Acontece que existem muitas pessoas que teimam em meter o bedelho onde não foram chamadas, palpitando sobre aqueles que mal lhes cumprimentam.

Com isso, acabamos, muitas vezes, sendo vitrines sociais, mesmo sem querer, uma vez que a vizinhança parece ter tempo de sobra para cuidar da vida alheia. E isso se torna ainda mais forte quando somos autênticos, quando assumimos tudo o que somos, mesmo remando contra a maré das convenções sociais, quando não trocamos nossa felicidade pelas regras ditadas por quem não tolera aquilo que desconhece. Muitos têm medo daquilo que foge à regra e acabam condenando formas de viver que não estejam escritas em manuais de etiqueta ou em versículos bíblicos.

Por essa razão, existem pessoas que acabam sufocando suas verdades, seus sonhos, suas necessidades emocionais, por conta de reprimendas e de censuras por parte de grupos de gente bisbilhoteira e infeliz. Temem machucar os familiares, os supostos amigos, fingindo um papel teatral que em nada condiz com suas verdades mais íntimas, machucando a si mesmas dolorosamente. Na ânsia por serem aceitas por um grupo que não tem nada a ver com elas, acabam por agradar os outros, em detrimento da própria felicidade.

Temos, no entanto, que parar de tentar agradar quem não nos aceita como realmente somos, quem dita regras para tolerar a nossa companhia, quem pensa na contramão de nossos sonhos. Não podemos sufocar a nossa essência por medo de julgamentos e de dedos apontados contra as nossas verdades. Caso não estejamos prejudicando ninguém, o nosso caminho deve ser trilhado no compasso sereno das batidas de nossos corações.

Quando temos que mudar para sermos aceitos por um grupo, aquele grupo não é nosso, nunca foi, nem nunca será. Haveremos de encontrar e de nos encontrar, sem ter que enterrar nossa alma sob os olhos impiedosos de quem não sabe o que é ser feliz de fato. Vivamos!

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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