Sabe aquela pessoa mais introvertida? Aquela que fica mais na dela, no seu cantinho… fala menos que os demais, mas de repente, solta uma pérola ou um comentário super certeiro e ponderado no meio da confusão dos tagarelas? Pois é… Essa pessoa não é assim por acaso; este é um traço de personalidade que tanto pode ser um empecilho, quanto uma arma poderosa na arte de conviver.
A vida de todos nós, entretanto, pede alguns recolhimentos. Há momentos e situações em que o nosso silêncio e a quietude dos lábios – ou dos dedos, em se tratando de exposição nas redes sociais -, é um tesouro dos mais valiosos.
Grandes planos ou avanços eminentes em nossas trajetórias merecem ser saboreadas na intimidade com aqueles que privam da nossa mais dedicada amizade. Há fortes indícios de que propagandas exageradas de nossa felicidade ou vida próspera, trazem para perto de nós sentimentos danosos de inveja e desvalia.
Um pouco de preservação pode nos poupar de muitos mal-entendidos e, também, de gente demais tendo aquilo que nos diz respeito como pauta principal de conversinhas à toa em festas ou encontros por aí.
Além do mais, há um charme especial nas pessoas menos exibidas. Há uma aura de sabedoria naqueles que são capazes de ouvir, em detrimento de viver com respostas prontas a qualquer tipo de indagação ou assunto.
Aliás… saber ouvir é de uma elegância intelectual indiscutível. Sem falar que é uma raridade hoje em dia.
Todos parecem sentir-se como que dotados de uma rede de conhecimentos gerais, em virtude da facilidade com que se chega aos mais variados temas e assuntos, a um simples toque dos dedos numa tela de smartphone.
O fato é que de nada adianta ter acesso a tantas informações se não tivermos discernimento para avaliar a procedência daquilo que nos chega ao conhecimento, antes de passar adiante. Em verdade, o que mais se vê por aí é gente vomitando certezas, baseados em recortes do que é capaz de interpretar acerca do mundo e de suas intrincadas relações.
Os silenciosos, saem ganhando numa hora dessas. Porque uma boa reflexão, longe dos ruídos externos, faz com que nossos neurônios sejam capazes de realizar conexões interessantíssimas. Silenciar-se em alguns momentos, propicia à mente a oportunidade de sorver as informações, questioná-las, buscar referências para validá-las ou refutá-las.
Esses indivíduos mais quietos, têm mais chance de estabelecer em seu pensamento uma linha de raciocínio mais encadeada e coerente, do que aqueles muito impulsivos que acabam sempre reagindo impensadamente a todos os estímulos, correndo o risco de dizer enormes bobagens só pela necessidade urgente de ter algo a dizer.
Isso não quer dizer que toda pessoa calada é brilhante e que toda pessoa extrovertida é superficial. O lance nesse caso é a tal cobiçada busca pelo equilíbrio. Devemos entremear nossa vida com momentos intensos e alegres, durante os quais possamos cultivar a doçura de uma vida mais colorida e ruidosa. Mas o silêncio… Ahhhhh… é no silêncio que as maiores revoluções internas nascem e têm mais chance de prosperar lá fora de nós!
Imagem de capa meramente ilustrativa: “O fabuloso destino de Amélie Polain”
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