Tem coisas que a gente precisa ouvir sem filtro, na lata. Com todo o jeito, claro, porque grosseria é atributo dos idiotas e ninguém precisa ser idiota para dizer o que pensa. Mas com a maior franqueza a gente devia ouvir de vez em quando: “olhe aqui, criatura, se o mundo não se interessa por você, a culpa quase sempre não é do mundo. É sua mesmo. Assuma: você não é alguém interessante!”.
Tudo seria muito mais simples. Porque acontece, ué! Acontece de toda pessoa em algum momento se tornar desinteressante para as outras. Do mesmo jeito que você pode estar nem aí com o mundo, o mundo também pode ver em você nada além de um inútil zero à esquerda. E tudo bem!
É assim que é. Eu, você e todo mundo seremos desinteressantes, enfadonhos e insuportáveis para alguém em algum momento. Estejamos atentos, vigilantes, autocríticos e sejamos honestos. Quando acontecer, o jeito é assumir e tirar o time de campo. Sumir, desaparecer, escafeder-se. E ter tempo para pensar no assunto. Mentir, suavizar, dourar a pílula, nada disso adianta. É preciso encarar um fato muito simples: nós deixamos de ser interessantes.
Nessa hora acontece de tudo. Tem gente que senta e chora, gente que se revolta e fica ainda mais chata, gente que adoece. E tem gente que pensa no assunto como gente grande: afinal, a quem eu desejo interessar e por que não consigo?
Pode ser que a resposta seja mais simples ainda: aquele por quem você se interessa tem outros interesses e você não está entre eles. Aí você segue em frente e esquece essa coisa toda. Pronto!
Agora, pior do que ser desinteressante para o outro é não ter interesse por si mesmo. Aí é o fim. Qual foi a última vez que você se interessou por alguma coisa de sua própria responsabilidade? Qualquer coisa. No corpo, na alma, na vida profissional. Quando foi que decidiu: “eu preciso melhorar isso aqui e vai ser agora”? Foi hoje, ontem, anteontem ou já nem sem lembra?
Se faz tempo ou você já nem se lembra, talvez esteja aí uma pista importante. Quase sempre nos tornamos desinteressantes para o outro quando deixamos de interessar a nós mesmos.
Dia desses alguém me disse choramingando: “ninguém se interessa por mim. Acho que o problema sou eu”.
E eu respondi: “também acho”.
Resumindo, a pessoa não fala mais comigo. Sumiu sem me dar tempo de justificar o meu sincericídio: o afeto que a gente tem por uma pessoa devia ser proporcional à nossa liberdade de dizer a ela o que pensa. Se ninguém se interessa por você é porque você se interessa muito menos por si mesmo.
Acho que perdi o amigo. Para ele, não foi interessante ouvir o que eu tinha a dizer. Não quis saber do resto, que o interesse é uma coisa que vai e volta, aumenta e diminui de acordo com outras instâncias, incluindo o nosso empenho pessoal, que um sujeito desinteressante hoje pode ser interessantíssimo amanhã, que alguém irrelevante para mim pode ser incrível para o outro e essas coisas. Ele nem quis saber. Mas tudo bem. Isso também já não me interessa.
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