Hoje no restaurante estava ouvindo a conversa de duas mulheres e uma delas estava se lamentando pela dificuldade de ficar com os filhos nos dias de hoje e dar conta de todo o resto que faz parte dessa versão pós-moderna do universo feminino, em que assumimos tantas funções.
Também percebi que no intervalo entre o papo com a amiga e algumas garfadas e olhadas no celular, em nenhum momento a vi interagindo com o filho que tentou, por algumas vezes, lhe mostrar o desenho que havia feito no guardanapo.
Fiquei observando a cena e só me vinha a mente que sim, é realmente muito difícil o papel da mulher nos dias de hoje. Nisso, ela tinha razão. Complicado cuidar da casa, das crianças, dos maridos, de si mesma e do trabalho, fora todo o apelo do mundo virtual que acaba por roubar uma boa parte do nosso tempo.
Mas as tentativas frustradas do filho em obter a atenção da mãe, também me faziam pensar na incapacidade que algumas mulheres têm de se vincular afetivamente aos filhos e que isso, na maioria das vezes, pouco tem a ver com falta de tempo ou excesso de tarefas.
O trabalho pode até servir como desculpa para as que vivenciam, nessa seara do encontro com o outro, especialmente com suas crianças, alguma dificuldade emocional. Nada além disso.
As crianças, em particular, desejam e demandam um tipo de intimidade emocional que envolve muito mais que disponibilidade de tempo, mas que tem a ver com entrega, aconchego, carinho, suporte, investimento. Nada fácil e, para alguns, tarefa quase impossível. Principalmente se você não teve isso na sua história, se em seu baú de emoções e lembranças não há resquícios de uma infância bem nutrida afetivamente.
Ainda assim, acredito que somos capazes de buscar esses recursos de outras maneiras e aprendermos a enfrentar o desafio da intimidade emocional que uma criança nos coloca.
Todo o trabalho, o auto-cuidado, o tempo para tantos afazeres, a autonomia que as mulheres têm hoje em dia são conquistas e nada tem a ver com a capacidade de se vincular afetivamente. Eu sempre trabalhei e, por mais que a maternidade tenha me imposto limites, pausas e rearranjos, continuei com meu trabalho e isso, de maneira nenhuma interferiu negativamente no meu exercício da maternidade ou na minha vinculação com as minhas filhas.
Se você tem este desejo e se dispõe a isso, não é o trabalho ou qualquer outra coisa que vai te impedir. As dificuldades podem aparecer, mas você será capaz de vencê-las se assim o desejar. Pra começar, basta olhar pro lado, reparar naquele desenho, seguir as pistas que a criança te dá e tornar o seu tempo com ela, especial.
A recompensa será o sorriso, o afago, a companhia que não apenas serão as sementes para fertilizar o solo da segurança emocional de seu filho, mas também ajudarão você a curar suas próprias feridas e a encontrar um pouco mais de suprimento no seu baú de emoções.
Fácil, realmente não é.
Só sei que vale muito a pena tentar.