Sensibilidade, meditação e necessidade de catarse

“Certamente a sensibilidade aumenta com meditação. E todo o significado de sensibilidade é que toda experiência será sentida com maior intensidade, e isso inclui os seus problemas. Um meditador sentirá um insulto muito mais do que um não-meditador. Porque a consciência daquele que não medita não é clara. Quanto mais fumaça em sua consciência, menor a possibilidade de você sentir angústia.

E talvez seja essa a razão do porque escolhemos viver uma vida com baixa consciência – apenas para reduzir a intensidade da angústia. Pergunte a um psicólogo e ele lhe dirá que toda criança, numa certa fase de sua infância, aprende a baixar seu nível de consciência. Toda criança nasce sensitiva, e gradualmente começa a matar sua sensibilidade, porque viver com ela é difícil.

Quando uma criança fica com raiva, todos em volta lhe chamam de louca, e dão um jeito de controlar as ações da criança, fazendo com que ela se controle. Seu ser todo está em fogo, e lhe pedem que se controle. Assim, nós ensinamos a criança a matar sua sensibilidade.

Quando você começa a meditar, suas qualidades de criança começam a emergir, sua sensibilidade cresce, e suas experiências se aprofundam. Tudo que acontece a você alcança suas profundezas, e isso cria problemas para você, para sua família, para seu relacionamento, para seus amigos. E essas dificuldades estão além da compreensão deles.

Todos eles carregam uma expectativa em relação à meditação – de que ela o tornará pacífico. E exatamente o oposto acontece! “Antes de começar a meditar ele não era raivoso, e agora está muito cheio de raiva, a todo o momento!”

Eles acham que a pessoa meditativa deveria ser um morto vivo, que você pode dar um tapa e ela ficará olhando em posição de za-zen sem mover um músculo. E isso é verdade, mas no fim. Não no caminho. A paz é o final da meditação.

No começo da meditação todas as suas feridas são mexidas, e todas as raivas e ambições e jogos de poder vem à tona. Se não vem, não é meditação o que você está fazendo. Todas as suas coisas se tornarão mais profundas, e tudo que você tem suprimido desde sua infância começa a emergir com força total. Você não se sentirá em paz.

Se você estiver doente, sentir-se-á mais doente ainda.
E quando você experienciar o prazer será um prazer muito maior, muito mais profundo que o prazer comum das pessoas. Coisas muito pequenas o farão sentir-se abençoado, tanto que você sentirá vontade de dançar. E igualmente pequeninas coisas o deixarão em tal estado de escuridão, que você sentirá vontade de cometer suicídio. Quando você começa a meditar tudo isso acontece…

A menos que você viva o mundo em sua totalidade, você não será capaz de conhecer o divino em sua totalidade. E, porque o mundo cobriu você, desde a infância, com condicionamentos, são essas marcas do mundo que aparecerão primeiro – é o que você sentirá primeiro. Então, lembre-se: a sensibilidade não deve ser reprimida, mas aprofundada e intensificada. Ela pode deixar sua vida em dificuldades, mas você pode usar isso de maneira criativa.

Toda vez que você sentir que uma situação está muito intensa, vá para seu quarto e chute e bata em seu travesseiro. Permaneça ali, sozinho com você mesmo, e deixe essa energia sair, seja raiva ou choro. O ponto que eu estou enfatizando é que você tem de exprimir. Você tem de expressar esse lixo interno. Permita isso. Jogue-o para fora vigorosamente.

Todo meditador tem de passar pela catarse. Apenas ficar pacífico não é suficiente. Nós guardamos dentro de nós raivas de muitas vidas, não só desta vida. Um momento chegará em sua vida que você se sentirá mais aliviado, e aquela raiva do passado não surgirá mais. Mas até esse momento, a catarse é um dever.
Com a meditação muitas experiências se aprofundarão em sua vida. Alegria e tristeza terão mais impacto sobre você.

Se você continuar reprimindo sua raiva, chegará a um ponto em que sua meditação morrerá. Se você jogar seus sentimentos ruins sobre as outras pessoas, as dificuldades se multiplicarão.

Assim, refugie-se em sua solitude e deixe seus sentimentos saírem. Por isso criei métodos de meditação catárticos. Nunca o homem precisou tanto disso. A catarse é indispensável para meditação, e sua meditação se tornará mais pura quanto mais total for sua catarse.

E pura meditação é iluminação.

Catarse tem de ir de mãos dadas com meditação: somente quando a meditação se torna iluminação a catarse chega ao fim.

‘Para um buscador, ela não pode ser evitada.’

OSHO
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