Esse texto está, há alguns dias, “pulsando” em minha mente, mas, confesso que o escrevo com muito receio. Eu receio ser mal interpretada e acabar sendo percebida como uma pessoa “estraga prazer”, vitimista, ou algo do gênero. Espero, de verdade, que meus leitores não se decepcionem com essa mensagem e que ela possa chegar aos destinatários certos.
É sobre o direito de ficar triste, inclusive, no Natal. Nessa época do ano, há uma “orquestração” por parte da mídia e redes sociais no sentido de veicular que o mundo está em festa e que a alegria impera. Parece estar escrito, nas entrelinhas, que, se alguém sentir tristeza, bom sujeito não é.
Contudo, eu quero, nesse texto, passar o meu recado às pessoas que, por alguma razão, estão tristes hoje. Hoje, apesar de ser Natal, existem pessoas de luto pela morte de alguém querido. Existem pessoas que estão tristes por estarem desempregadas, endividadas, doentes, longe da família etc. Os acontecimentos da vida, bons e ruins, não respeitam o nosso calendário. Eles não se preocupam se é Natal, Ano Novo, Páscoa, aniversário etc. Eles desconhecem essas convenções. Eles são mestres em quebrar protocolos.
Escrevo sobre isso com conhecimento de causa. Perdi minha mãe em pleno Natal de 2010. E, hoje, me dou o direito de chorar pela lembrança tão assoladora que marcou minha vida há 7 anos. Sim, ontem, chorei um bocado. Chorei em minha cama em posição fetal por muito tempo. Não tem como fingir que não estou triste só porque a data é de festa mundial. Eu não devo satisfação ao mundo, devo, sim, ao que eu sinto.
Citei esse acontecimento triste da minha vida, não para te comover, mas, para que as pessoas entendam que hoje é um dia em que podemos viver o que sentimos, sem máscaras. Falando em máscaras, aproveito aqui para te lembrar uma coisa, caso isso faça sentido para você. Cuidado com essa ânsia de fugir do que sente. No dia de hoje, a regra é: ter que comemorar. Então, as pessoas sentem-se na obrigação de estarem juntas ás outras. Isso é ótimo, desde que estejam juntas de verdade, de coração.
O que não faz sentido é você se enfiar num ambiente para comemorar o Natal apenas por convenção ou para não sentir-se inadequado. Dependendo do contexto, o tiro poderá sair pela culatra e você voltar da ceia pior do que chegou nela. Natal é para ser comemorado com que a gente gosta e esse gostar tem que ser recíproco. Se for para você ir à uma reunião, supostamente, para comemorar e ser alvo de indiretas, de alfinetadas e de opressão, acho que compensa mais a sua própria companhia, concorda?
Por fim, quero apenas que você seja fiel a si mesmo(a). Se você estiver triste hoje, não se sinta um estranho no ninho. Não é nenhum crime sentir tristeza, inclusive, no Natal. Faz parte. Não se iluda com as centenas de postagens nas redes sociais sobre as comemorações dessa data. Lembre-se: as pessoas mostram apenas as fotos lindas e retocadas, ninguém posta as ofensas, os desrespeitos e as dores. Você não é anormal por estar sozinho hoje. Você não é um ingrato por sentir essa tristeza. Você é apenas humano…demasiadamente humano.
Imagem de capa: Nicoleta Ionescu/shutterstock
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