O casal da mesa ao lado estava conversando. Não entre si, mas com outras pessoas, através de seus celulares. Os dois saíram juntos de casa para jantar fora, mas no meio do caminho, foram parar em qualquer outro lugar, menos ali, menos juntos. Acho que foi uma das cenas mais tristes que já vi na vida. Não pela modernidade, adoro a internet e suas possibilidades, mas pela distância abissal entre os dois.
Em outra mesa havia um casal, dois rapazes, rindo juntos de algo em seus celulares. Mais adiante, outra duplinha grudada fazendo selfies. A cena do primeiro casal nada mais é do que uma roupagem moderna para o abandono cotidiano afetivo. Gente que por algum motivo abandona a relação, mas não comunica as autoridades, não admite pra si. Seguem arrastando-se por quilômetros, aturando-se, desviando-se pela casa, sorrindo em coordenação quando na frente dos outros. São como rodinhas da bicicleta emocional do outro.
É errado dizer que não se falam. Falam, é claro, mas não se conversam. Não se juram mais saudade, não se confessam mais os sonhos, não se riem juntos de suas inseguranças, talvez nunca tenham o feito. Não relembram suas memórias, não esclarecem os ruídos, não buscam mais calor em algum pedaço de pele, ambos perdidos. Não se tocam em silêncio, não se beijam demorado, não imaginam estrelas nas pintinhas pelo corpo, não aprenderam a linguagem secreta da iris do olhar do outro.
Seguem juntos, orbitando, como um planeta frio e sua lua, mantendo a distância segura para não se perderem, ou engolirem-se tampouco. Não foi culpa de ninguém, o passado é miúdo. A gente vai mesmo se perdendo, pouco a pouco, de não dizer em não dizer, de adiamento em adiamento. Não há culpa, mas mérito em quem consegue se manter interessante e interessado pelo alcance do outro. A internet nunca foi a vilã da história, bem sabemos que o amor adora uma conexão.