Ser bom não significa ser um banana

Muitas pessoas têm dificuldade em expressar o que sentem, por temerem magoar as pessoas. E essa dificuldade é muito ruim, porque implica o desejo de ser querido por todos, o tempo todo, e isso não existe. Ninguém nunca foi, nem nunca será unanimidade. Machucar as pessoas a torto e a direito de maneira egoísta é imperdoável, mas anular-se quando é preciso se impor será um dos piores comportamentos para qualquer um.

O mundo está tão lotado de maldade e de pessoas más, que a gente acaba querendo ser o oposto do que está por aí, para que consigamos sobreviver sem veneno, sem pesos e culpas. É preciso andar na contramão do que não nos agrada, para que se salvem as nossas esperanças e os nossos sonhos. Para que possamos ficar bem junto aos nossos queridos.

Acontece que, muitas vezes, na ânsia de fugir à agressividade e à violência lá de fora, acabamos nos tornando por demais dóceis, exageradamente contidos, e isso não traz resultados positivos. Não podemos nos anular o tempo todo, engolindo sapos, escondendo insatisfações, omitindo incômodos. Não dá para existir sem se impor, sem ser claro, assertivo e, se necessário, ser antipático. Há indivíduos que só nos entenderão quando não formos leves com eles, infelizmente.

Confunde-se muito ser bom com ser bonzinho e isso não tem nada a ver. Pessoas boas trabalham, sobretudo, com a verdade e vivem de forma transparente, sincera. Pessoas boas sabem que é impossível ser querido por todos, porque isso requer ser o que não se é. Ser bom é ser autêntico e real, é viver de acordo com a própria essência. Ser bom tem a ver com se colocar no lugar do outro, sem ter que se ausentar de si mesmo.

Enfim, você pode ser uma pessoa boa e, ainda assim, falar palavrão, dar uma enlouquecida, impor limites, mandar se lascar e tomar atitudes em favor de si mesmo. Ser bom não significa ser um banana. É isso.

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Photo by Adil Gökkaya from Pexels







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.