O terapeuta Luiz Alberto Hanns, autor de “A Equação do Casamento”, conclui a série de artigos sobre traição explicando os passos que compõem o caminho da superação
Abordei em artigos anteriores o moralismo e os sentimentos de quem foi traído, agora discuto as sete fases que as pesquisas mostram ser cruciais para a superação de uma infidelidade (descritas no meu livro “A Equação do Casamento”). Elas podem seguir aproximadamente a sequência abaixo.
Para passar por elas com sucesso, é importante que o parceiro que traiu tenha sensibilidade e paciência e que o parceiro traído não se engesse na postura do ressentido a ser “reconquistado”.
1. Arrependimento
Em geral, cabe ao parceiro que foi infiel demonstrar com clareza que se arrepende. Não apenas da boca para fora, mas com uma profunda conexão emocional. Não justifique sua infidelidade acusando o parceiro (“Você me tratava com frieza”) ou falando das suas próprias necessidades (“Eu estava carente”). Soará como tentativa de minimizar o problema. Deixe para abordar suas reivindicações mais tarde, quando seu parceiro estiver pronto para repactuar o casamento. Ainda que você não se arrependa de ter tido um caso(já vimos que há circunstâncias que podem tê-lo levado a isto), lamente estar causando sofrimento ao parceiro. E não ter sabido enfrentar os problemas conjugais. Deixe o arrependimento claro em palavras, atitudes e respeite a dor do outro.
2. Desforra
Talvez o parceiro traído durante meses sinta fúria, ou fique amuado e puna-o com silêncios. Ele precisará de um tempo para descontar a mágoa. Ao punir você, ele não só se alivia, como pretende “reeducá-lo” e fazê-lo saber como doeu. Aguente e respeite estes sentimentos. Querer abreviar rápido demais o período de expiação (“viremos logo a página”) só piora as coisas. Em geral, ao longo dos meses a raiva tende a diminuir e se intercalar com momentos de prazer. Tenha paciência. Se esse período se alongar além do razoável, é preciso que o parceiro infiel dê um basta à quarentena de punições. Se vocês se gostam e querem permanecer juntos, encontrarão o balanceamento adequado.
3. Processo de explicações e esclarecimentos
A maioria das pessoas traídas quer saber tudo que de fato se passou. Essas explicações ajudam a situar o parceiro traído, que ficou sem referências e busca redescobrir quem é seu conjuge e o quanto foi exposto. Aprenda a aguentar esses interrogatórios e as reações intensas de mágoa a cada nova informação que você for “soltando”. Se você mentir para preservar a relação, poderá ser desmascarado e parecer um mentiroso incorrigível. Se o caso terminou e quer resgatar a relação, aguente com paciência. Mas se estes interrogatórios se tornarem repetitivos e só deixarem ambos atolados na mágoa, dê um basta com ternura, mas firmeza: “Já lhe disse tudo de importante. Não vou entrar em detalhes que não acrescentam nada e apenas nos farão mal”. Se você for a parte traída e não puder parar, busque ajuda, não destrua o que restou expondo demais a si e ao parceiro.
4. . Indenização
Se você traiu e quiser restaurar a relação, é preciso “indenizar” o parceiro: corrigir antigas negligências de sua parte e atender a partir de agora com mais cuidado às necessidades dele. Essa fase é talvez a mais importante para o futuro da relação. Tanto você como ele poderão utilizar esse período de resgate da relação para incorporar novas práticas de um cuidar do outro. Não se trata de uma “limpada de barra provisória”: não volte, mais adiante, aos antigos padrões de negligência. E se você for a parte traída, cuidado para não exagerar nas exigências e pedidos de mimo.
5. Perdão
Se você é a parte infiel, não tenha pressa para que seu parceiro oficialize um perdão. Se você foi traído, reveja o que os vincula, qual o valor que a relação tem para você. Não seja moralista e não se afunde na autocomiseração. Você não será o primeiro nem o último a ser traído. Se quer ficar casado, em algum momento terá de superar e perdoar. Se precisar de ajuda psicoterápica, não hesite em procurar, pois pode ser difícil lidar com as vulnerabilidades ativadas em você. Perdoar é empatizar com o parceiro, compreender os contextos e se dispor a repactuar a relação. Não é fácil, mas com autoestima e confiança na vida, é possível recuperar o equilíbrio e refazer uma aposta no parceiro.
6. Reasseguramento
Se você tiver sido infiel, terá de tranquilizar o parceiro por meses ou anos. Ele gostaria de ter acesso a seus e-mails, celulares, de poder achá-lo a qualquer momento, de ter sua agenda diária, de acompanhá-lo em viagens, de ser incluído em programas que antes eram exclusivamente seus? Dar a ele acesso a seu cotidiano é o custo de tranquilizar um conjuge traumatizado. A prioridade na fase de resgate de confiança não é o seu conforto, mas o do parceiro.
7. O sétimo passo: repactuação
Depois do choque inicial, muitos casais acabam por revisar a relação. Mesmo que você tenha sido traído esteja aberto a rever quais comportamentos seus podem ter contribuído para que o casamento desandasse e, se quiser resgatar a relação, cabe também a você fazer sua parte. Se foi você quem traiu, chegou a hora de, além de escutar as necessidades do parceiro, colocar também as suas. Se tiverem afinidade, atração sexual e complementaridade psicológica, terão tudo para seguir adiante, conectar-se às necessidades do outro e evitar repetir erros — e cultivar melhor a relação.
* Luiz Alberto Hanns é terapeuta com mais de 20 anos de prática clínica e autor de “A Equação do Casamento — O que pode (ou não) ser mudado na sua relação”
Do site Dellas
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