Casais improváveis me encantam. Não é que eu seja romântica. Ou melhor, não é apenas porque eu sou romântica. O fato é que essa gente que destoa do óbvio e descabe dos modelos têm o poder de tirar sorrisos de mim. A mais bonita verdade sobre o amor, me arrisco a dizer, é que ele não pode ser mensurável, controlável ou razoável.
Quando a gente começa a achar muita explicação para amar alguém… Ai, ai, ai… temo que não seja amor o que nos vai por dentro. Explicam-se teorias, fórmulas, fatos históricos. Amor não tem explicação. E se tiver, perde a graça. Amor é para dar formigamento, por fora e por dentro. Amor desorganiza, descabela, descortina.
E não há nenhuma dúvida de que são as situações e experiências desafiadoras que fazem a gente ficar mais sabido, mais maduro, mais flexível. Mas o amor… Ahhhh, o amor desencrava lá do fundo da gente a melhor coisa que formos capazes de ser. O amor desencarde as ranhuras causadas pelas perdas, frustrações e solidões.
Amor bom é aquele que vaza da gente para o outro, não em gotas, mas em enxurradas de vontade de acreditar nas bonitezas que envolvem a aventura de estar vivo. Amor bom é quando faz florir o peito da gente em cores desconhecidas. Amor bom é amor que liberta que empresta asas para quem a gente ama voar por aí, sem que tenhamos que conhecer seus planos de voo.
Foi esse amor que eu vi ali. Numa tarde de garoa miudinha fazendo desenhos na janela. Os gatos dormiam preguiçosos. O silêncio era um conforto doce. Um bolo de maçã com canela crescia no forno e esparramava seus sabores feitos em ares perfumados. Alguém dedilhava um piano sem compromisso, dedos indolentes deslizando nas teclas de marfim.
Nenhum cenário seria capaz de competir com a cena. Cenas de amor, enfim, não carecem de cenários. Naquele instante, eram apenas dois corações a procurar o caminho um do outro. Naquele instante, a felicidade era desenhada numa lista de desejos para um futuro que se sonha junto.
Ele queria demais se perder nos olhos dela. Ela queria demais encontrar-se nos olhos dele. Ele desamarrou, um a um, os nós de temor que as histórias malfadadas de romance haviam instalado em suas ilusões. Ela, transformou seus nós em laços, soltos, frouxos, lindos.
Eles ousaram subverter a lógica do impossível e marcaram um encontro sem data certa, iam ver as luzes de mil cores no céu gelado de um lugar de sonhos. Ele não podia acreditar na sorte que tivera de, entre bilhões de pessoas perdidas ter encontrado justo ela!
Eles não eram perfeitos. Nunca sonharam em sê-lo. Mas foram corajosos para acreditar que podiam ser imperfeitos um para o outro. Ela aprendeu a ler os silêncios dele. Ele aprendeu a interpretar os sorrisos dela. Seu amor não cabia em nenhum buquê. Então… ele deu a ela todo o jardim!
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