Esta notícia já pode ter chegado aos ouvidos de muitos pais, e infelizmente ainda vai chegar aos de tantos outros.

A primeira reação dos pais ao receber uma notícia como esta é negar-se a acreditar. Temos um mecanismo natural que nos impede, em um primeiro momento, de acreditar em uma realidade ruim que a nós é exposta e este mecanismo chama-se negação. Diante de qualquer evento doloroso, mesmo que por uma fração de segundos, em princípio, todos nós negamos. Muitos podem passar dias, meses, anos ou até uma vida se negando a enxergar e aceitar certas realidades, isso varia de acordo com o repertório de enfrentamento de cada indivíduo e também com o tamanho da dor que a realidade lhe causa.

Alguns pais podem passar a vida sem acreditar na drogadição dos filhos, dando desculpas a si próprios e tomando o mais perigoso dos caminhos: o de achar que vai passar; que é “coisa de jovem”; que um dia, como que num passe de mágica, ele vai “amadurecer e deixar disso”. Muitos jovens estão não só usando, mas também traficando drogas aos catorze, quinze e dezesseis anos. Não falo só de “boca de fumo” em bairro pobre – falo de tráfico em escolas particulares, em clubes e festas sociais de classe média alta.

Não importa como a notícia chegue, talvez chegue através da escola, ou de outros amigos. Talvez chegue de forma não verbal, através de mudanças de comportamento. A verdade é que se ela chegar, ou mesmo se a desconfiança aparecer, a regra é: negue pelo menor tempo possível e faça algo pelo seu (sua) filho (a). Não fique inerte imaginando que tudo possa ou vá se resolver sem sua intervenção. A drogadição de um filho adolescente não é de responsabilidade da escola nem dos profissionais que você possa procurar. Eles podem e vão ajudar muito sim, mas a intervenção dos pais é crucial – sem ela, quase nada poderá ser feito.

A luta contra o vício é árdua e complexa. Muitas variáveis cercam o uso de substâncias psicoativas. O vício é químico, psicológico e social. Estima-se que entre cada dez jovens que experimentam algum tipo de droga, metade irá se tornar dependente e dois irão vir a óbito em decorrência disso. A drogadição é uma doença, precisa ser tratada. O número de jovens adictos aumenta a cada ano e eles começam cada vez mais cedo a experimentar algum tipo de droga. Jovens de ambos os sexos se drogam e estão recorrendo a mais letal das substâncias: o crack.

Negligenciar o uso de maconha, cocaína e/ou qualquer tipo de droga pode implicar em grande risco. Não há outra forma de ajudar seu filho a não ser enfrentar a situação, agir. Existem alguns dados importantes de pesquisa sobre o comportamento de jovens que podem ajudar e devem ser levados  em conta para a prevenção e tratamento. Jovens que não fazem atividades físicas, nem praticam algum tipo de esporte, nem atividades extracurriculares como aulas de outro idioma ou de algum tipo de arte (pintura, música, dança) têm mais propensão ao uso de drogas, embora nenhum desses fatores isolados signifique risco direto para a drogadição. A explicação para esse dado importante vem de uma célebre frase: “mente vazia é oficina do diabo”. Pré-adolescentes e adolescentes têm muita energia e muita movimentação hormonal. Isso tudo precisa ser bem direcionado e bem gasto. É importante que haja motivação, prazer na vida e proximidade da família nessa fase. Jovens que participam de qualquer dessas atividades desenvolvem tolerância à frustração, aprendem a perder, exercitam o convívio social, a aceitação das diferenças e aprendem a se superar. Têm objetivos, adquirem conhecimento chegam à vida adulta mais preparados para o que vão enfrentar. Outra alternativa que pode ajudar muito é trabalhar ou estagiar durante o ensino médio.

Quando somos jovens na pré-adolescência e/ou na adolescência precisamos muito de autoafirmação, travamos uma luta diária com a nossa autoimagem, com o nosso autoconceito. Enfrentaremos frustrações e precisaremos ter gente ao nosso lado para nos ajudar. Quando digo que crianças devem se acostumar o mais cedo possível com as frustrações, estou querendo alertar que, se na adolescência elas estiverem sozinhas, poderão sim apelar para um alucinógeno que vai em princípio aliviar a dor e o resto da história é o vício. É assim também com o álcool, é assim com o “rivotril”.

Um alicerce familiar e um convívio social saudável ajudam muito. A motivação e a paixão por algo como um esporte ou uma arte dão sentido à vida, prova disso é que, em clínicas de reabilitação, as atividades ocupacionais e oficinas de arte são parte fundamental no tratamento.

Se o seu filho está usando drogas, arregace as mangas e faça tudo que puder: procure ajuda psiquiátrica, psicológica e o mais importante, se aproxime dele e lá fique até que consigam vencer essa luta. Se o seu filho não está usando drogas, espero que esta reflexão te ajude a aprimorar ainda mais seu vínculo com ele e te ajude a afastá-lo ainda mais de uma das doenças mais tristes da nossa história.

 

Viviane Battistella

Psicóloga, psicoterapeuta, especialista em comportamento humano. Escritora. Apaixonada por gente. Amante da música e da literatura...

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Viviane Battistella

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