Desculpe mas não é nada pessoal. Eu falaria isso para qualquer pessoa, eu negaria aquilo para qualquer pessoa…
Quantas vezes escutamos algo parecido? Quantas vezes já o dissemos para alguém? Eu nunca disse porque acho que tudo sempre é pessoal. São características, hábitos, trejeitos, inflexões, respostas que nos fazem rejeitar uma pessoa ou que vem dela para nós. Isso nas situações de relações, onde o que o outro sente faz alguma diferença para nós. Não nas negativas comerciais, empresariais, institucionais e todos os ais onde o verniz social é capaz de achatar uma criatura até ela deixar mesmo de ser pessoa e virar qualquer coisa que não seja pessoal.
Mas, voltemos ao bordão quando usado entre conhecidos, parentes, amigos, amores, outra qualquer forma de relação, qual será a razão para nos acovardarmos e não falarmos a verdade, já que temos esse direito e, se formos suficientemente gentis e educados, nenhum dano causaremos? Por que achamos que repetir que não é pessoal faz o outro se sentir melhor? Não faz, isto é óbvio! No máximo faz a criatura perceber que nem sequer possui algo de individual para ser comparado e então rejeitado. Façamos a prova em nós mesmos, no espelho:
– Desculpe, não é nada pessoal, eu sou desse jeito mesmo, então acho melhor ficarmos por aqui. (Desculpe= me tire a culpa; não é nada pessoal= você não é uma pessoa; eu sou desse jeito mesmo = covarde; então acho melhor pararmos por aqui= era o que eu queria dizer mas não tive coragem, não quero estar mais com você, preciso ir).
O mais louco é que geralmente começa: Desculpe… Já de cara pede-se desculpas, ou seja, que lhe tire a culpa por dar uma baita desculpa.
Aí gente, quando for pessoal, quando for dedicado àquela pessoa – sim, e isso é extremamente pessoal – vamos combinar de não dizer a tal frase, vamos nos esforçar para contar o que pessoalmente nos desagrada, nos afasta, nos impele a dizer não, que nos obriga a cortar laços e nós. Nós que agora vamos virar eu e você, nenhum de nós merecemos dar nem receber nada que não seja pessoal.
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