Olho para você e vejo uma beleza. Uma história linda que não foi contada. Às vezes penso em você e sinto saudades do que a gente não viveu. As manhãs de sábado em que acordávamos famintos e íamos descabelados até o café da esquina comer um english breakfast e um suco de maça com gengibre. Ficávamos mergulhados em nossos silêncios vendo o movimento crescendo nas ruas, em mais um dia quente. E eu nem precisava te olhar para saber que você estava ali, imerso também em uma certa doçura. E a house music que tocava no café, nunca foi muito o meu estilo, mas compunha perfeitamente essa história de um verão com ventos do pacífico.
Esses silêncios que nunca existiram, essas manhãs que nunca se deram. Afogadas na pressa de entrar num ônibus antes mesmo do sol nascer.
Sinto falta da nossa caminhada na orla, em que parávamos para ver o surf ou conversar com um amigo em comum que nunca tivemos. E deitávamos na areia só para tomar um sol no rosto e respirar o cheiro um do outro um pouco mais. E de quando éramos surpreendidos com um cachorrinho nos jogando areia e pulando a nossa volta, nos convidando para brincadeiras e nos desvendando as gargalhadas que já estavam prontas e só procurando um pretexto para irromperem. Envoltos numa dose certa de serotonina e adrenalina. Entorpecidos e vibrantes. Virávamos crianças. As crianças que nunca fomos.
Às vezes penso em você e sinto saudades do que a gente não foi. Nosso amor teve o peso dos adultos, já nasceu grande demais, nasceu perigoso, estressado, cansado. Uma bonita vontade no campo dos medos e das obrigações, uma bonita energia no campo dos orgulhos. Nasceu em meio a uma guerra, lindo mas cancerígeno. Nosso amor escondido nas madrugadas, nas garrafas de cerveja, na tristeza de saber que nunca conhecerá essas manhãs encantadoras de sábados.
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