Só ando em boa companhia
Data da foto: 2010 Julia Roberts no filme "Comer, Rezar e Amar", do diretor Ryan Murphy.

Será que estar só é melhor do que estar mal acompanhado? Em alguns casos estar por nossa conta é o maior desafio. Principalmente por aqueles que estão acostumados a ter o outro como referência para suas escolhas.

Por outro lado, aqueles que encaram a solidão com dignidade não rejeitam a companhia dos outros. Ao sentir prazer na própria companhia, acabam enxergando o outro como opção. Se quiserem ir ao cinema e não encontrarem alguém para acompanhá-los, vão bem sós. Mesmo no folclórico sábado à noite.

A vertigem aumenta quando os desacompanhados são mulheres. Os desafios são outros. Enfrentar uma multidão com a segurança de quem se basta requer uma dose extra de coragem. Quem sabe uma pitada de despreocupação com a opinião alheia. E acredite, não é nada fácil.

O interessante é a pressão sofrida mesmo quando nos encontramos dentro da “zona de conforto” da sociedade, ou seja, quando temos um parceiro fixo e por algum motivo resolvemos sair desacompanhados. Quem já não ouviu a frase:

– Você foi sozinho (a)?

O que há de tão ameaçador em alguém estar sozinho? Será que a nossa necessidade de julgamento é tão imperiosa que não sossegamos até classificar o outro pelos nossos valores pessoais? Colocá-lo em uma de nossas caixinhas internas nos deixam mais confortáveis, claro.

Cabe aí uma reflexão: Estar sem companhia não significa ser solitário. São duas situações distintas. Podemos estar acompanhados há anos por um parceiro indiferente à nossa presença ou que não assume a relação. A famosa “solidão a dois”.

Swami Dayananda Saraswati, em seu livro “O Valor dos Valores”, ressalta que uma mente tranquila gosta de si mesma. Não foge da companhia de outras pessoas, nem se sente perturbada pela ausência dela. Essa seria a atitude de uma mente contemplativa, centrada no autoconhecimento.

Quem se conhece o suficiente para perceber os seus limites não maltrata a si nem aos outros por companhia alguma. Busca o amor dentro de si mesmo. Isso é compaixão em seu sentido pleno.

Toquinho já alertava aos desavisados que encontrava pelo caminho: “Eu não ando só. Só ando em boa companhia. Com meu violão, minha canção e a poesia”.

Quem sabe, da próxima vez que encontrar uma pessoa desacompanhada, vale lembrar que todos temos o direito de apreciar as coisas boas que a vida oferece. Afinal, quem conhece o próprio valor não se sente ameaçado por ninguém (acompanhado ou não).

Por essas e outras que só ando em boa companhia. Com meu tapetinho de yoga, minha meditação e a escrita.







Advogada e escritora, com cursos nas áreas de yoga e meditação. Carioca, residindo atualmente em Brasília.