O border não tem uma estrutura organizada pela culpa-castração, não é um neurótico; o border tem uma estrutura organizada pela angústia de perda de objeto. A depressão e o suicídio no border reclamam as lógicas do masoquismo primário, não as lógicas do masoquismo secundário. A este nível do masoquismo primário o border não se situa como uma estrutura conflitual, mas sim como uma estrutura aconflitual, marcada por mecanismos de fuga-evitamento (ao conflito). O border orienta-se no exclusivo sentido da ausência de tensões, portanto, pelas lógicas do masoquismo primário, que estão ao serviço direto de uma pulsão de morte, nunca neutralizada pela gratificação libidinal.
Ao nível da relação o border não pode estar com o objeto (é intolerante à conflitualidade inerente), nem sem o objeto (é intolerante à ausência, pois a perda é uma ferida sempre aberta). O objeto é ausência insuportável e intruzividade intolerável. Este é o dilema border. O objeto de dependência, no lugar de ser aquilo que torna tolerável a pulsão, é aquilo que a torna ainda mais intolerável. O border não pode estar com o objeto, nem sem o objeto. O dramático é pois que, para além de tudo, o border é efetivamente a estrutura mais dependente, aquela que mais necessita do objeto, para que o objeto lhe organize a expêriencia emocional, dada a percaridade das suas capacidades de elaboração-mentalização. O border é extremamente dependente porque necessita do objeto como “segunda pele”. O border procura pensar dentro do outro, porque não pode pensar dentro de si próprio. Vem dai a dependência e o excesso de identificação projetiva, que marcam o seu funcionamento.
Mas, uma vez que o objeto está destinado a conter a marca dos seus próprios interesses pulsionais e, portanto, a marca da dissidência inevitável, está invariavelmente destinado a despertar no sujeito (através da identificação projetiva excessiva), a reactualização projetiva da perda (perda de objeto), sempre revivida como uma rutura brusca e destrutiva, de acordo com o modelo de uma verdadeira revivescência traumática atual.
Esta organização dependente atua num registo de relação dual, com exclusão do terceiro e com um recurso muito ativo a mecanismos de evitamento do conflito (lógica aconflitual). Não há aqui conflitualidade Edipiana. Esta estrutura é analisável, mas não através do modelo da neurose.
Última nota: O border não é neurótico mas é maioritariamente um cidadão comum. Na maioria dos casos estes sujeitos casam, têm filhos, emprego, são professores, engenheiros, pedreiros, empregados de mesa, psicólogos, psiquiatras, pescadores, músicos, etc. Não deliram nem alucinam. A psicose aqui é um mito. Mas a instabilidade afetiva, os ataques de pânico, as fobias, a ansiedade, as adições, as somatizações, os agires, etc., são por seu turno muito comuns.
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