E para minha surpresa, depois do nada, do silêncio que me tomou a mente, um pensamento manso se anunciou. Nele alguém me trazia um pequeno vaso com uma planta e dizia que aquele vaso era para mim. Que a planta deveria ser cuidada e nutrida por mim.
No mesmo instante em que o pensamento me tocou compreendi a sua grandeza. Ele tinha suas raízes fincadas no confiar.
Nem sempre temos conosco a noção de como é importante confiar em nós e nos que amamos. Naquele momento não me achava apta para cuidar de coisa alguma, mas houve um pensamento que disse o contrário. De forma silenciosa, ele me fez compreender que a minha capacidade se estendia para além de mim e de meus problemas naquele momento.
Outro dia, vendo um filme antigo na tv, me lembrei desse pensamento. No filme a personagem principal recebia em sua loja um menino que junto da família realizava o sonho de conhecer alguns lugares, pois os médicos disseram que ele estava irremediavelmente doente.
Ao saber da condição do menino a dona da loja disse aos pais que ele podia ficar com o filhote de cachorro dela. A mãe interveio, sem demora, falando que ele não poderia cuidar do animal, pois tinha pouco tempo de vida. Nesse momento, a mulher insistiu dizendo que o menino certamente seria capaz de cuidar do cachorro. E ele foi.
Esse filme, assim como o pensamento do vaso de planta, me lembraram que existem muitas formas de dizer a nós e aos que amamos que confiamos na capacidade nossa e deles de superar e obter êxito em uma determinada situação.
O velhinho curvado que mora na rua de baixo e que leva pelas mãos o neto, também me conta o mesmo. Ao ser acreditado na velhice, ele se esquece do que dizem os médicos sobre suas costas e se curva feliz para guiar o neto pelas desniveladas calçadas do bairro.
O poder em crer enaltece nossas capacidades e nos diz que podemos transcender e efetivamente realizar.
O cão, a planta e a criança pequena podem ser vistos como a materialização de boas possibilidades. São sementes do bem.
No entanto, mesmo cientes dessas boas sementes, como agentes criadores dentro das possibilidades do confiar, é impossível negar que muitas vezes temos nas mãos a opção de dizer aos que nos cercam, através de atos que delegam, que eles são capazes, que eles podem muito mais do que imaginam, contudo nem sempre o fazemos.
Não só já fomos omissos no quesito acreditar em algum momento, como também já fomos vítimas de alguma descrença emancipada através de um “isso não vai dar certo” vindo de pessoas próximas. E, quando ouvimos uma frase como essa, antes de largarmos mão dos anseios, o melhor que temos a fazer é silenciar o mundo para ouvir aquele pensamento que em nós baixinho sussurra: “Eu acredito, você é capaz”.
Quando, em contraponto, a ideia do novo nos chegar pelos outros, sejam esses outros pais idosos, filhos jovens, amigos empreendedores ou colegas visionários, que sejamos nós os primeiros a dizer: “Eu acredito no seu êxito”.
Para salvar vidas, para salvar anseios, para salvar sonhos, não precisamos atravessar continentes. Para isso basta apenas que nos deixemos habitar pela beleza que mora no confiar.
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Imagem de capa: Geoff Goldswain/shutterstock
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