Não adianta: brasileiro ama cozinha. Parece que nas veias de cada um desse país-continente corre um tempero regional, uma fruta sazonal, uma herança cultural. Nossa mesa reflete a nossa mistura: um tucupi do Norte combina bem com um corte de carne do sol, acompanhado de um suco de frutas do Nordeste, sem esquecer aquele purê bem de aipim (que os paulistas chamam de mandioca) bem temperadinho com manteiga, leite e orégano.
Masterchef é o mix disso tudo que a gente é na essência, só que no prato. Merchandising de programas a parte, nosso multiculturalismo já começa nos três chefs. Temos o Fogaça, brasileiro nato, não viu tesão na arquitetura nem no comércio exterior na faculdade, muito menos no trabalho diário no e massacrante do banco. Começou a cozinhar porque queria se alimentar melhor e hoje administra lindamente a cozinha dos seus restaurantes, seus projetos pessoais, e uma das cadeiras do reality show.
Então temos a linda Paola, nascida na Argentina, mas com raízes na Itália. Viajou o mundo, cozinhou pelo mundo, e é no Brasil que expressa seu dom e sua vocação: cozinhar. A mesma delicadeza que tem com os ingredientes, ela tem com as palavras. Ela fala o que tem que ser dito, mas fala com duas vozes: razão e coração. Ela é cozinha de corpo e alma, e em seu sorriso sincero de quem aceita o Brasil como pátria, ela mostra que hoje é uma de nossas porta-vozes naquela bancada.
Jacquin nasceu no interior da França e sempre gostou de cozinhar. Veio pro Brasil com 30 anos e aqui se tornou uma das nossas maiores celebridades nacionais. Batizou nosso amado “petit gateau”, abriu restaurantes, ganhou prêmios atrás de prêmios. Quando foi convidado pro Masterchef, conheceu a popularidade e ganhou a simpatia de cada um de nós pelo seu sotaque franco-brasileiro e pelo carisma que só ele tem. Lembro de um Jacquin bravo na primeira temporada, anos atrás, mas que hoje todos querem abraçar e aprender um milésimo do que ele tem pra ensinar, na cozinha e na vida.
(a partir de agora, spoilers da final do Masterchef Amadores, que foi ao ar dia 31/07/2018 na Band)
A última temporada dos amadores foi uma das mais especiais. Com mais técnica e provas mais elaboradas e difíceis, vimos a grandeza do nosso país desde o primeiro dia. A seleção já continha provas de culinária regional, internacional e tradicional. Entraram os melhores e, ao longo desses meses, ficaram os melhores. Até que sobraram apenas dois para a grande final: Hugo e Maria Antonia.
Hugo é jovem e de personalidade calma, fácil de trabalhar em grupo, mas um pouco atrapalhado quando fica sob pressão. Chegou no programa já dentista, mas trouxe na mala a paixão por cozinhar, principalmente doces. Teve uma trajetória de repescagens, de quedas e superações. Em quase todas as provas, batia na trave. “Quase ganhei como melhor do dia, mas tudo bem. Fica para a próxima”, ele dizia sempre. Foi ganhando gosto pela culinária, começou a estudar mais e chegou na final com a postura do cozinheiro que ele será daqui em diante: culinária contemporânea que explora o melhor dos ingredientes brasileiros.
Maria Antonia, linda gaúcha, mãe, sommelier. Mulher de personalidade forte, que não abaixa a cabeça mas que muitas vezes não acreditou que fosse realmente capaz de entregar um prato sensacional. Falava alto, incomodava nas provas em grupo, achava que não ia dar certo, mas então se concentrava em si mesma, ia, fazia e acontecia. Sempre que colocava um prato na frente dos jurados, dava pra sentir seu receio em cada sofá desse país, que a acompanhou com certa dúvida. Ela não era uma preferida, mas sua força estava justamente na fraqueza da maioria: quanto mais torciam contra, mais ela provava pra si mesma que era capaz. Chegou na final mostrando quem é: mãe, mulher, esposa, fazendo comida de casa com as tradições que a acompanham – o sul do Brasil e a Itália, terra nostra.
Vou admitir, pra mim tanto faz quem ganhou. Os dois são vencedores. Superaram barreiras enormes dentro de si mesmos ao longo desses meses. Nem eles mesmos sabiam que competiriam pelo troféu. Eles mesmos torciam pelos seus colegas, com mais experiência, com mais jogo de cintura, com mais certeza de que levaram o prêmio de Melhor Cozinheiro Amador do Brasil. Mas foram eles que tiveram mão, cabeça, coração e coragem pra enfrentar o alto ibope da grande final, que revelou mais do que o dono do primeiro lugar: revelou uma família crescendo. Gêmeos, né Jacquin? Félicitations!
Maria Antonia gritou quando viu o resultado. Mais uma vez, temos uma mulher no topo do pódio. Trouxe na mala tantos sonhos, e agora volta pra casa abraçada com o filho, o marido, o prêmio e uma nova profissão. Tudo mudou de agora em diante, e temos certeza de que ela vai brilhar mais ainda longe das telas. Afinal, seu sorriso e sua concentração para entregar uma boa comida chamaram a atenção de todos nós. E, se tem uma coisa que ela tem de sobra, é ser obstinada.
Hugo, nosso campeão que ficou em segundo lugar nessa competição. Ganhou o carinho da maioria dos adversários, conquistou o Brasil com seu carisma e nos emocionou diversas vezes com seu amadurecimento tão significativo em tão pouco tempo. Masterchef lhe deu o maior prêmio do mundo: a chance de conhecer sua vocação ainda tão jovem. O mundo é teu, menino. O reality show foi só o primeiro degrau que você subiu.
Já com saudades das terças-feiras à noite, me pego pensando em quantos sonhos foram alimentados durante o reality. Todos os competidores que ali entraram descobriram se cozinhar é o que querem fazer ou não. Vitor Hugo, Rita, Padre Evandro, Lili, Major, Vinícius, tantos outros. Tinham a cozinha nas veias e no coração. E nós, espectadores, que pelo menos uma vez nos imaginamos lá dentro. “E se fosse eu?”, nos perguntamos. Será que teríamos coragem de aparecer pra todo o Brasil dizendo que queremos deixar para trás nossa faculdade, nossa profissão, nosso trabalho chato e rotineiro, e ir atrás da felicidade de conquistar nosso maior sonho? Todos eles tiveram. Todos eles nos representaram, de um jeito ou de outro. Masterchef Brasil é o melhor de todos quando comparado com os outros países porque ele tem uma coisa que é só nossa: a coragem do nosso povo de ser feliz.
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