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Sobre Relacionamentos e Muletas

Tive que usar muletas algumas vezes em minha vida e sempre tive medo de perdê-las. Não que eu gostasse delas. Muito pelo contrário. Mas, portadora da síndrome de luxação recidivante da patela, eu sempre tinha ao meu dispor as minhas companheiras para o caso de um dia eu precisar…

Passei muito tempo com aquelas duas muletas ali, ao pé da minha cama, quando eu ainda morava em Brasília. O fato de eu morar sozinha, só fazia com que eu mais necessitasse delas caso a patela decidisse dançar.

Até que eu voltei para Minas, as patelas deram trégua e as muletas sumiram…

Foi muito tempo depois que fui analisar a minha vida através daqueles momentos… Eu havia terminado um namoro e não escondia de absolutamente ninguém que eu queria reatar aquele “romance”. Fui atrás, liguei, chorei. Não recebia um não mas também nunca recebia um sim. Eu estava, em outras palavras, sendo cozinhada em banho-maria. Até que um dia, após dez meses, a vida me apresentou uma nova pessoa, e eu decidi dar essa chance ao coração…

Foi neste momento que o namorado do passado reapareceu. Veio atrás de mim e o expulsei com belíssimos xingamentos. Mas ele, por incrível que pareça, insistiu. Veio até a minha casa e num gesto inesperado, pediu-me uma chance. Disse que havia visto que me amava, que me queria novamente como a sua namorada e que queria comunicar a toda família dele que havíamos reatado. Surpresa? Bota surpresa nisso. Eu jamais esperava tal atitude dele. Então o fato de ver que eu poderia me envolver com outra pessoa fez finalmente aquele cara cair em si…

Naquele momento eu achei que ele realmente me amava. Na verdade, até ele mesmo achava isso. Só tempos depois fui perceber que o fato de ele temer me perder para outro era muitíssimo diferente do fato de realmente me amar, e que ele confundia orgulho com amor. E aí logo me lembrei das minhas muletas. Eu temia perdê-las, mas não as amava. E então eu enxerguei que naquele momento, para aquele cara, eu também era uma muleta…

Ter medo de perder é diferente de querer ter ao lado. E quantas vezes fomos muletas na vida de alguém? E quantas muletas temos em nossas vidas? Não só no amor, mas na carreira, nos círculos de amizade… Ter uma muleta é ter medo de ficar sozinho em nossa própria companhia, é ter medo de enfrentar os riscos de uma nova caminhada após ficar tanto tempo “engessado”. Ter uma muleta é aceitar e se convencer de que o comodismo é o melhor a se fazer. Ser uma muleta é ainda pior, é abaixar a cabeça e esquecer o seu próprio valor…

Permita-me, meu Deus, que eu não seja mais muleta na vida de ninguém. Permita-me, meu Deus, que eu não tenha mais muletas. Permita-me, meu Deus, que eu continue acreditando que posso andar sozinha. Minhas patelas agradecem. Meu coração também.

Imagem de capa: lassedesignen/shutterstock

Nat Medeiros

“Sou personagem de uma comédia dramática, de um romance que ainda não aconteceu. Uma desconselheira amorosa, protagonista de desventuras do coração, algumas tristes, outras, engraçadas. Mas todas elas me trouxeram alguma lição. Confesso que a minha vida amorosa não seguiu as histórias dos contos de fada, tampouco os planos de adolescência. Os caminhos foram tortos, íngremes, com muitos altos e baixos e consequentemente com muita emoção. Eu vivo em uma montanha-russa de sentimentos. E creio que é aí que reside o meu entendimento sobre os relacionamentos. Estou em transição: uma jovem se tornando mulher experiente, uma legítima sonhadora se adaptando a um mundo cada vez mais virtual. Sou apenas uma mas poderia ser tantas que posso afirmar que igual a mim no mundo existem muitas e é para elas que escrevo: para as doces mulheres que se tornaram modernas mas que ainda acreditam nas histórias de amor.”

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