Há dias mansos, dias calmos, cheios de uma introspecção serena nos quais nos reservamos para nós. São dias de revermos o passado, de juntarmos livros, de desdobrarmos roupas e retirá-las do armário. Neles experimentamos broches de família e escrevemos com canetas antigas. São dias nos quais marcamos horário conosco. São dias nos quais, apesar de solitários, a solidão tristonha não tem vez, pois nós nos bastamos.
Nesses dias somos tudo o que precisamos ser. Neles passamos felizes um bom tempo ao nosso lado, sem hora para nos despedirmos, sem hora para dizermos que o mundo nos chama.
Nesses dias crescemos ao olharmos nossos planos e avaliarmos, carinhosos, se estamos seguindo de maneira a alcançá-los. Esses são dias especiais nos quais nos voltamos mansos para nossas escolhas. São dias nos quais saímos à caça de nosso propósito e aprumamos o corpo para seguirmos animados em frente.
A solidão boa nos leva pelo braço e nos ensina novas formas de tentarmos o que já foi tentado antes. Ela deixa que descansemos calados dentro dos nossos sonhos e permite que leiamos em um olhar a beleza de um momento.
A solidão bonita permite que contemplemos a beleza das estrelas que caem do céu em uma noite escura e nos ajuda a empostar a voz quando cantarolamos alguma canção. Ela é uma professora que nos ensina muito sobre nós.
Os dias calmos e serenos que nos levam de encontro a nós são sublimes, recheados de uma solidão benéfica, mas os desdenhosos cheios de um vazio silencioso são angustiantes. Eles são repletos de uma outra solidão, uma solidão mesquinha com a qual não devemos criar laços, na qual não devemos nos aninhar.
Esses dias tristes, revestidos de uma garoa fina, de um desconforto latente que não nos deixa ficar em paz, são dias reticentes nos quais não nos encontramos. São dias rasos, cheios de desalentos nos quais ninguém quer estar, nem mesmo nós. São dias nos quais nos sentimos pequenos e sozinhos, onde não há espaço para mais nada além de uma solidão pesarosa e sentida. Essa solidão não carrega o anseio feliz dos que se bastam, é uma solidão catatônica, isenta de qualquer enlevo, chata e desdenhosa. É uma solidão que nos nega a companhia de um bom filme, de um livro especial e até mesmo de um pensamento amigo.
Ao fazermos um convite para nossa própria companhia devemos nos atentar para não endereçarmos o mesmo para a solidão errada, para aquela que chega sem pedir licença e só vai embora quando quer.
Para a solidão errada não devemos nem mesmo dizer oi e se ela por ventura chegar com ou sem convite e adentrar nosso mundo, que nós sejamos fortes o bastante para mandarmos ela para longe, dizendo em alto e bom tom que ela não pode e nem deve ficar, que aceitamos ao nosso lado apenas a solidão contemplativa e benéfica que chega e parte respeitosa, deixando-nos iluminados e fortes, repletos de nós.
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(Imagem de capa Meramente Ilustrativa)
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