Diga o que disserem, o mal do século é a solidão, canta a extinta banda Legião Urbana, em sua canção “Esperando por mim”. O tema solidão tem servido de inspiração para inúmeros compositores, poetas, escritores, etc. Esse sentimento tão assolador faz-se presente nos mais variados estilos literários e musicais. Particularmente, acho a solidão tão paradoxal nos nossos dias.
É algo que vai na contramão, visto que o mundo está cada vez mais populoso. É tão estranho isso, as cidades superlotadas, os condomínios cheios de moradores e, as pessoas cada vez mais sozinhas. Alguém concorda comigo? É complicado compreender que o que separa você do vizinho ao lado seja apenas uma parede, e no entanto, vocês não se conhecem, não sabem o nome um do outro e mal se cumprimentam com um “bom dia” robotizado dentro do elevador.
Tanta gente ao nosso redor e não podemos contar com ninguém. Ninguém para tomar uma xícara de café, ninguém para bater na sua porta e oferecer um chazinho caso te escute tossindo muito, ninguém para propor um revezamento para levarem as crianças à escola, já que são vizinhas e estudam na mesma sala. Nos dias atuais, a autossuficiência tem sido cada vez mais buscada. Parece que o que as pessoas mais temem é a possibilidade de precisarem de alguém, de um vizinho ou de um familiar.
Não precisar de ninguém é o que uma pessoa tem de mais admirável, parece. Tudo bem, ser independente e não precisar de ninguém pode até ter um lado bem positivo, talvez a tranquilidade e a sensação de não incomodar, entretanto, há um ônus nisso. Quando nos garantimos em nossa autossuficiência, perdemos a oportunidade de construirmos vínculos significativos. Quando nos mostramos na condição de necessitados de um auxílio, estamos dando ao outro a oportunidade de nos servir e isso cria uma atmosfera de gratidão para quem é ajudado, bem como um sentimento de utilidade àquele que ajudou.
Então teremos aí dois ingredientes perfeitos, indispensáveis ao estabelecimento de um vínculo de amizade. Considerando algumas exceções, acredito que a solidão anda de mãos dadas com o orgulho. Sim, o orgulhoso percebe como humilhante a ideia de precisar de alguém, e vai se isolando cada vez mais, na tentativa de transmitir uma imagem de superioridade, afinal, para ele, precisar de alguém é contrair uma dívida impagável.
Percebem que nos contextos sociais mais pobres, as pessoas são mais próximas? Um vizinho tem a liberdade de viajar e pedir para o outro vigiar sua casa, algo impraticável em contextos sociais mais elitizados. Vejo como preocupante esse cenário, tanta gente se esbarrando e ninguém se tocando, ninguém se olhando, ninguém interagindo. Um monte de seres encapuzados de orgulho, se escondendo uns dos outros.
Tanta máscara…tanto vazio. A realidade de cada um, só quem conhece é o travesseiro, encharcado pelas lágrimas quando um corpo se despe das máscaras sociais e se deita ao final de um dia.
Imagem de capa: Kalamurzing/shutterstock