Falar com franqueza sobre a solidão não é tarefa fácil, pois é uma condição ainda mal entendida. Mas em face da sua constância e consequências na saúde, a solidão deveria ser declarada como um problema de saúde pública, por se tratar de mais uma epidemia do século 21.
A globalização do sentimento de solidão é surpreendente, mesmo em nossa sociedade da hiperconexão e das redes sociais. Pesquisas internacionais apontam que uma em cada três pessoas nos países ocidentais sente-se sozinha – com muita frequência –, demonstrando que o isolamento aumenta o risco de morte em 26%, quase na proporção da obesidade.
Quando a solidão se torna recorrente, as pessoas tendem a se conformar. E podem possuir família, colegas ou um amplo círculo de amigos nas redes sociais, entretanto, não se sentem realmente inseridas ou sintonia com nenhuma pessoa ou com a comunidade.
A solidão, a despeito de ser mais um grave problema social e de saúde, é simultaneamente complexa e única em cada pessoa. A solidão pode ser associada a fatores internos, como a baixa autoestima, falta de confiança em si mesmo e ainda temos indivíduos que crêem que não são dignos de respeito dos outros, levando ao isolamento crônico.
Pessoas que se sentem sozinhas, na maioria das vezes, ficam mais angustiadas, deprimidas e agressivas e têm menos perspectivas de realizar atividades laborais e sociais, uma vez que tendem a ter mais relações negativas com os outros, um sentimento que pode ser contagioso.
Portanto, não é novidade que a solidão esteja intimamente ligada à depressão, suicídio, ansiedade, insônia, medo, demência, pressão sanguínea alta, doenças cardíacas e até acidentes são mais corriqueiros entre pessoas cronicamente solitárias.
A sociedade líquida e a economia do modo que estão organizadas vendem a falsa sensação de que consumismo preencherá o nosso vazio existencial. Porém, isso está bem longe de curar a epidemia da solidão, contribuindo para continuarmos imersos na autodestruição, no isolamento social e na poluição do meio ambiente.
Para ajudar os indivíduos vítimas da solidão, a calma, a compreensão, o apoio de amigos e familiares, a busca da recuperação dos vínculos afetivos e comunitários, o fortalecimento da confiança – são elementos fundamentais – para reduzir a solidão crônica.
Por isso, é importante que a temática da solidão deva ganhar mais atenção das famílias, das igrejas, das escolas, das universidades, do sistema de saúde e das casas ou clínicas geriátricas, a fim de preparar a sociedade, sobretudo, os profissionais de saúde, para identificar e tratar essa questão num olhar compassivo e terapêutico.
No longo do desenvolvimento da psicanálise se constatou a profunda dependência que um ser humano tem de outro, para sobreviver e se desenvolver. As teorias freudianas nos ensinam a compreender que o peso da solidão está relacionado com as mesmas sensações do bebê, que sente a falta da pessoa amada. E no mundo adulto, mal-resolvido, isso pode se converter em tensão e angústia ou fuga para solidão crônica.
Jackson César Buonocore é sociólogo e psicanalista
Imagem de capa:Rusinka/shutterstock
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