Marcel Camargo

Solidão não se cura com o amor dos outros, mas com amor-próprio

A solidão é um tema muito explorado, analisado, retratado em filmes, telas, músicas, pois faz parte da vida, sendo um sentimento que tentamos evitar, que não queremos vivenciar. Ainda mais hoje, em tempos de amizades virtuais voláteis, competitividade à toda prova e desconfiança generalizada em relação às intenções alheias. Parece que os ambientes contemporâneos são propícios à proliferação de solidão, estejamos ou não acompanhados.

Muitos confundem solidão com estar sozinho, o que, na verdade, não tem relação. Somos perfeitamente capazes de estar bem sozinhos, sem ninguém ao nosso lado. Isso porque uma pessoa solitária não sente necessariamente solidão, assim como pessoas com vários amigos e familiares não estão imunes a esse sentimento. A solidão tem muito a ver com nosso estado de espírito, com o que estamos sentindo aqui dentro, com aquilo que pensamos sobre nós mesmos.

O que importa é nos conhecermos o mais de perto possível, ter a certeza do que queremos, do que nos faz bem, de quem queremos por perto, ou seja, temos que saber a que viemos, o que nos completa de fato. É preciso prestar mais atenção em nós mesmos, no que nosso corpo e nossa alma pedem, para podermos contar com tudo o que faz o nosso coração vibrar. Ficarmos nos comparando com os outros ou dando ouvidos a palpites de quem nem nos conhece direito atrapalhará tudo dentro da gente.

Vale aquela velha história: cada um de nós é alguém único, com carências e necessidades próprias, ou seja, nem tudo o que traz solidão para uns o trará também para os outros. Não adianta tentarmos entender as pessoas a partir de nós mesmos, assim como também pode não dar certo tentar cobrir o que nos falta com o que já funcionou para os outros. Temos, sim, que encarar o que somos, enfrentar o que tememos e aceitar tudo o que temos dentro de nós, pois é com isso que teremos de lidar diariamente.

Ame-se, aceite-se, aprenda a dar valor ao que você é, ao que você possui, ao que você pensa, sonha, fala, vive. Ninguém enxergará o tanto que somos e temos a compartilhar, a ensinar, a receber, caso teimemos em reprimir aqui dentro as nossas verdades, o nosso corpo, a nossa essência. Porque quem se ama e se valoriza, não sente solidão, pois tem junto consigo tudo de que precisa para ser feliz. E, sendo alguém satisfeito consigo mesmo, saberá desfrutar a vida, com gente ou sem ninguém. Nem mais.

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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