É muito tentador espiar as escapadelas, tropeços, batalhas e até mesmo vitórias alheias e, a partir de nossos recursos interpretativos, analisar, avaliar e pontuar como certo ou errado o que cada um faz de sua vida.
Olhando assim de fora, sempre parece meio óbvia a melhor solução. Ficamos mesmo com a impressão de que, naquela situação, seríamos capazes de resoluções muito mais simples, inteligentes e assertivas.
Ao vermos o outro se debatendo em seus problemas, ficamos sempre com aquela sensação de que fomos menos protegidos pelo destino. Os obstáculos alheios parecem sempre menores do que os nossos.
Somos crianças na hora do recreio, achando que o lanche do coleguinha é muito mais apetitoso!
Somos iguais àqueles filhotes de cachorro na pracinha, brigando por um retalho de qualquer coisa, pela posse de um objeto esquecido ou descartado, que até pode ser inútil, mas que passou a ser super valorizado, assim que se transformou em motivo de disputa.
Carregamos conosco essa mania infantil de acreditar que o outro sempre fica com o melhor lugar na plateia, com o palco de maior sucesso, a cama mais macia, o roteiro de vida mais glamoroso, o melhor papel na história.
O que não somos capazes de fazer – e ninguém é mesmo! -, é ter a exata medida ou dimensão do custo de cada conta sobre o qual se precisou dar conta para chegar até ali, naquele lugar que parece tão maravilhoso e confortável.
Nunca conseguiremos imaginar o tamanho da queda, a profundeza da dor, a ardência do cansaço, a aspereza da solidão ou o frio da falta de perspectivas daqueles cujas histórias são tão diferentes das nossas.
É difícil por demais entender o quanto é arriscado avaliar a velocidade de um carrossel pelo lado de fora. Sempre acharemos que as voltas dos cavalinhos enfeitados parecem mornas e monótonas. Achamos que estamos aptos a entrar em seus giros na hora que bem entendermos. E que podemos, também, saltar a qualquer momento, caso a brincadeira venha a parecer entediante e boba. Em ambos os casos, entretanto, temos cinquenta por cento de chance de ir ao chão.
No entanto, assim como no carrossel, as voltas da vida são muito mais desafiadoras do que parecem. Subestimar o esforço alheio na ascensão, ou superestimar o seu fracasso na queda, pode nos render dores muito mais agudas e cicatrizes muito mais intensas do que o mais violento e ardido ralado nos joelhos. Porque tombos, levaremos todos. A diferença é que alguns de nós terão direito a alguma mão estendida para se levantar. Outros terão de amargar sozinhos a queda, por arrogância ou falta de capacidade de pedir e oferecer ajuda.
E não há nada de errado em cobiçar o que ainda não temos, desde que não passemos a acreditar que, se não recebemos, ninguém pode receber também. Mais uma vez, a resposta está em conquistar a sabedoria para equilibrar–se entre a beleza de ser generoso e a necessidade de não ser conformado com o destino. Fácil é que não é!