Por Nina Spim
A morte e a vida sempre são entendidas como dualidades. A questão é que a maioria das pessoas prefere ignorar a mortalidade, talvez porque, dessa forma, viver pareça algo mais intenso e real. Não é assim que a personagem principal do livro “Uma vida para sempre“, da autora nacional Simone Taietti, pensa. Ethel, uma garota de 17 anos que convive com uma doença incurável que a impede de sentir dor e, também, de transpirar, tem como “passatempo” pesquisar sobre probabilidades estatísticas e pensar sobre a finitude da vida e a iminência da morte. A princípio, o leitor pode achar que a trama é sobre, exatamente, a morte. Até que, quase no final, entende-se a lição do livro: o engrandecimento da dádiva de se estar vivo.
Cada um carrega a sua própria história. A vida de ninguém é igual. Mas todos estamos interligados: somos, a cada respiração, potencialmente, um impacto na vida alheia. Somos, também, “quase nada neste mundo, mas significamos muito para alguns”, é o que o personagem masculino principal escreve, em um dos capítulos finais do livro. Alguém sempre vai nos ferir. E nós sempre iremos ferir alguém. Talvez, sejamos feridos por alguém que estimamos e, dessa forma, nos magoemos e nos enterremos em uma dor desnecessária – que, muito provavelmente, será passageira. É comum viver a dor e, tempos depois, tentar bloqueá-la. Temos a tendência a achar que uma vida plena só será alcançada com felicidade notória e tristeza nula. Bloqueamos o que nos incomoda, pois não sabemos lidar com essas emoções, achamos que as adversidades pelas quais passamos apenas nos tornam frágeis. Mas é necessário lembrar que, quando a dor nos aflige, é quando mais necessitamos aceitar essas provações. A dor é um ensinamento: lembra-nos que, apesar de tudo, estamos aqui. Somos sortudos por senti-la, porque muitos não têm a chance.
A linha é tênue quando se fala em vida, pois há o depois, aquilo que todos temem, mas ninguém menciona. As cartas sempre estão na mesa quando se trata da fragilidade de se estar neste mundo: precisamos viver intensamente. Não devemos esperar o amanhã. Aquela conversa que se quer ter, tenha hoje. Pode não acontecer como imagina, mas precisa acontecer, se é importante para você. E não é para que não seja afligido pela dor, remorso ou culpa, mas porque a linha se arrebenta fácil. É a instantaneidade de se estar vivo. Sua conversa pode não acontecer amanhã, simplesmente porque o amanhã, para você ou para a outra pessoa, pode não existir. Quantas coisas deixamos para fazer e dizer em outro horário, outro dia, outra semana? É exatamente assim que impactamos a vida alheia. Porque esperar, enquanto se vive, é morrer pouco a pouco.
Tudo muda constantemente e a efemeridade da vida é a mais marcante. É como ter uma certeza, aos poucos, se transformando em incerteza – coisas assim fogem do nosso controle. Acontece em um segundo, em uma hora, em um dia. Alguém se vai e nós ficamos. E é assim que recordamos que precisamos viver, enquanto ainda houver tempo. E, se houver o suficiente, podemos entender que vida e morte são amigas inseparáveis, mas necessárias, assim como a dor. Certas coisas precisam ser sentidas para que compreendamos o porquê de existirmos e o impacto que isso suscita nos outros. Talvez, apenas assim viveremos plenamente, sem medo de nos machucar e com coragem razoável para tocarmos as vidas de quem mais prezamos.
“Uma vida para sempre” promove uma reflexão existêncial. Afinal, quanto dura o para sempre?
Nota da Conti outra: o texto acima foi publicado com a autorização da autora.
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