Somos diálogos

O que é a palavra? Podemos dizer que aquilo que permite a nossa comunicação enquanto humanos. Se formos mais profundos, podemos até dizer que é o que nos faz humanos. E sendo algo tão importante à constituição do nosso ser humano, o que podemos inferir da palavra que não comunica? Seria ela ainda uma palavra? Seriamos nós ainda humanos?

O poeta alemão Holderlin diz em um dos seus versos que somos diálogos. Penso, então, que se somos diálogos, a palavra imbuída da capacidade e da vontade de comunicar é essencial para que consigamos nos manter enquanto diálogos. Isto é, enquanto sujeitos capazes de, por meio das palavras criar situações, fazer remeter a lembranças, recriar sensações, imaginar o futuro e, acima de tudo, conseguir que isso tudo consiga fluir entre a boca que fala e o ouvido que escuta.

Quando a palavra já não consegue exercer o seu espírito comunicativo, ela deixa de ser capaz de juntar os signos advindos de almas estranhas e atribuir-lhes sentido e sintonia. Desse modo, sem o elemento que permite a sua comunicação, as almas continuam na sua condição estranha e jamais se transformam em companhia.

E isso acontece, principalmente, quando a palavra deixa de possuir um interlocutor, de tal maneira que de tanto se acostumar a muito falar e nada dizer, ela se emudece, porque há um momento em que pela falta da chuva, a terra se torna seca, cheia de rachaduras que nada significam.

E, assim, as palavras começam a morrer de asfixia, porque não conseguem sair, tampouco respirar. Mas, diante desse cenário, para que servem tantos sons que notificam a chegada de mais uma mensagem? Servem para que apressadamente possamos responder, ainda que, na maior parte das vezes, sequer compreendamos. Talvez essa indisposição à compreensão ajude a explicar o porquê da morte das palavras.

Esses sons, tantos, também servem para nos lembrar que estamos em meio a multidões, cada vez maiores. E solidões, cada vez mais fortes. Afinal, não é preciso silêncio para que possamos nos perceber sós, quietos e sem as palavras. São as aglomerações humanas que expõem quão silenciadas nossas almas estão. Não à toa Hemingway, sufocado com as palavras, disse que: “Mesmo quando estava entre a multidão, estava sempre sozinho”.

Mas a gente prefere fingir que não vê e procura outras formas de preencher o vazio, por mais que esse vazio seja de gente, de uma humanidade perdida, órfã em sua própria rigidez. Que não muda de forma, não se abre para o outro, e vive a ironia dos gritos que ecoam pelas ruas um silêncio sem vida. Porque, “A gente vive muito em voz alta, mas às vezes a gente não se ouve”. Como não se ouve, a gente começa a cegar e nesse mundo de cegos, as palavras perdem o sentido, porque tampamos os ouvidos e paramos de enxergar.

Imagem de capa: Reprodução







"Um menestrel caminhando pelas ruas solitárias da vida." Contato: [email protected]