“Somos instantes, palavras, poesia. Dois delirantes ficando reais”. (Dudu Falcão/Lenine)
Se somos instantes, quando deixamos de perpetuar a sinestesia dos corações itinerantes? Como elucidar tamanha inquietude à vista do outro? Sinta o contorno das mãos, enxergue, ao invés de apenas olhar aquilo diante do seu campo de visão. Abrace a chegada, de modo que a partida seja simplesmente uma formalidade, saboreie sorrisos como se fosse o alimento mais aguçante ao paladar. Edifique a si mesmo.
Já não comporto metades ou contento-me com fragmentos, durante o caminho dos dias. Mas recebo de braços abertos doses desmedidas de inteiros, porque é nos inteiros que residem os instantes. Quando se reconhece isso, o universo ganha ares expansivos. Poesias travestidas de palavras deixam de ser meros artigos literários para contemplação. Elas transcendem para realidades vividas e sentidas. É não querer perder as janelas das vistas mais belas, girando, adentrando em curvas subliminares, mas sensitivas àquilo que simplesmente podemos nomear de viver.
Quisera lançar figuras no ar e tatear com destreza símbolos e significados inebriantes, atemporais e, principalmente, transparentes para um todo. Mas somos instantes, não? E instantes, mesmo que presenciados por todos, ainda assim são particulares, vistos em pequenas frestas do coração, e somente do coração receptivo, destemido, sonhador.
Tenho pra mim que muito ainda me emociona, pois o beijo é poesia no silêncio (leve-me até a lua), escrever é um exercício com o ouvido de dentro e todo o sentimento está acima de quantificações porque tratam dos dispostos ao impossível de formas possíveis. Somos instantes infinitos.