“Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”
– Antoine de Saint-Exupéry.
Nós somos o recorte de tudo o que vivemos. Somos a síntese de todas as nossas escolhas, de todas as nossas contradições, de todos os caminhos que percorremos e também dos que evitamos. Pablo Neruda já dizia que somos livres para fazer as nossas escolhas, mas que, na mesma medida, somos prisioneiros das consequências. Dessa forma, não há como fugir do que somos, daquilo que decidimos, tampouco há como apagar as nossas histórias, já que são elas que nos formam, em seus ritmos contínuos de construção.
É a partir do contato com o mundo, com o outro, com as decisões que invariavelmente temos que tomar, que nós nos tornamos o que somos. E, por mais que isso pareça óbvio, nem sempre o é, já que, tantas vezes, tentamos voltar no tempo para mudar as coisas, tomar rumos diferentes, cruzar outros sorrisos e percorrer outros olhares. Entretanto, isso apenas nos levaria por outros lugares, que também possuiriam imperfeições e coisas a serem melhoradas. Porque somos seres contraditórios e finitos, tentando imprimir sentido e completude ao caos e ao infinito.
Somos, como fala Galeano, “fodidos, mas sagrados”. E é dessa síntese entre o profano e o sagrado, o real e o misterioso, o humano e o divino, que nos constituímos. Constituição que se dá, sobretudo, por todas as pessoas que cortam a nossa alma. Pois é por elas, com elas, e a partir delas, que nós decidimos ir ou permanecer, virar à esquerda ou à direita, caminhar ou correr, continuar ou voltar. É no encontro com o mundo, mas de sobremaneira, com o que há de humano, demasiado humano nele, que a nossa identidade é formada e que nós respondemos por nosso nome e não por qualquer outro.
Sendo assim, não há como apagar nenhuma das pessoas que passam pela nossa vida, tampouco há necessidade. Todas elas, as melhores e as piores, as que trouxeram alegrias e as que trouxeram tristezas, as sorridentes e as melancólicas, as que produziram orgulho e as que produziram mágoas, as que repentinamente chegaram e vagarosamente se foram, as que vagarosamente se instalaram e de modo repentino foram embora. Elas, todas elas, foram e são importantes para que possamos nos olhar no espelho e nos reconhecer.
Ninguém é inútil na nossa existência. Tudo que sentimos ou deixamos de sentir por alguém, todas as portas que abrimos e que fechamos, ensinam-nos algo ou, pelo menos, possui algo a nos dizer, se estivermos interessados em ouvir. Como disse Exupéry: “Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.
Há de se aprender, portanto, que, na vida, até o definitivo é transitório, de modo a estarmos em constante transformação e aprendizado por meio das pessoas que nos cruzam, dos caminhos que fazemos, das escolhas que tomamos e das mudanças que nos formam.
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