Sou dessas que vivem em eterna esperança, que teimam em acreditar na sinceridade e torcem por inícios, meios e finais felizes.
Sou dessas que já erraram nas escolhas, que já se deixaram escolher sem nenhum critério, que calaram a voz quando deveriam gritar e falaram em momento inadequado.
Sou dessas que não querem sair do refúgio, mas quando saem, não querem voltar antes do amanhecer, não querem que a festa acabe.
Sou dessas que sentem medos infantis embora os enfrentem com coragem e bravura. Que não enxergam o óbvio mas captam sutilezas. Que são movidas por certezas delicadas e dúvidas grosseiras. Sou das que raramente atravessam as fases da vida com passos confiantes, mas que também se negam a estacionar em tristezas e frustrações.
Sou dessas que dizem: – Eu também não queria mesmo! E seguem em frente, olhando para trás de vez em quando, até que não seja mais preciso olhar nem lamentar nem sequer lembrar.
E sou também das que pedem desculpas como criança, que escrevem cartas, que refazem as cenas, lembram das palavras ditas, guardam momentos como tesouros.
Sou dessas que martelam seus pregos para pendurar ilusões e memórias e da mesma forma arrancam sem dó, da parede e da vida , manchas, riscos e cenas amareladas.
Sou dessas que num dia acordam vaidosas, e querem estar impecáveis em qualquer situação, e, logo no dia seguinte, perdem a paciência e saem de havaianas, cabelo preso e rosto lavado.
Sou dessas como tantas outras, que vivem buscando o equilíbrio de uma vida saudável, aceitável, agradável, e, quando possível, emocionalmente estável.
Sou dessas que estão na luta, que se recusam a entregar seus direitos sob qualquer alegação ou coação ou emoção.
Sou dessas, e só o que quero é ser reconhecida como única, embora seja muitas e nem tão diferente de todas.
Imagem de capa:
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