Nas últimas horas o Dr Drauzio Varella, segundo a opinião de muitos internautas, passou da posição de anjo para demônio e, mais uma vez, levantou os ânimos tanto dos hatters de plantão quando do público médio que insiste e transformar a internet em uma arena e em julgar pessoas como se seus atos sempre fossem dicotômicos: só bons ou só maus. Aliás, essa maneira de ver o mundo dividindo-o apenas em “preto e branco” e sem considerar as nuances e peculiaridades de cada caso apenas demonstra que, mesmo adultas, grande parte das pessoas mantém uma visão da realidade baseada em suas primeiras referências infantis do “bem contra o mau”.
Tudo começou quando o Dr Drauzio Varella, em reportagem produzida para o Fantástico, visitou detentos e demonstrou, como sempre faz, uma atitude de extrema humanidade e carinho com os presos. Dentre os presos que apareceram, destacou-se a imagem de Suzy, detenta trans que revelou que não recebia visitas há 8 anos e que ganhou um abraço do médico, imagem que rapidamente viralizou.
A polêmica que se seguiu dias depois aconteceu por causa da divulgação do crime incrivelmente violento contra uma criança que teria sido cometido pela detenta e que teria justificado a prisão.
O médico Drauzio Varella se manifestou, neste domingo (8/3), sobre o caso de disse que, no momento da entrevista com Suzy, ele não perguntou e nem sabia qual teria sido o seu crime.
Se pensarmos juntos saberemos que isso faz todo sentido, uma vez que quem se prontifica a trabalhar como médico na prisão está lá para cuidar de sua saúde e não para saber de seus crimes, afinal, os crimes anteriores já foram julgados e por isso existe a sentença. Ninguém vai preso por ter feito coisas bonitas, diga-se de passagem.
O que a reportagem tentava mostrar, entretanto, era o preconceito, abandono e a solidão de presas transexuais.
“Muita solidão, não é minha filha”, foi uma das frases do médico a detenta que, depois da reportagem, teria recebido mais de 300 cartas e presentes até que foi divulgado na internet o motivo da detenção que gerou toda a polêmica.
“Há mais de 30 anos, frequento presídios, onde trato da saúde de detentos e detentas. Em todos os lugares em que pratico a medicina, seja no meio consultório ou nas penitenciárias, não pergunto sobre o que meus pacientes possam ter feito de errado. Sigo essa conduta para que meu julgamento pessoal não me impeça de cumprir o juramento que fiz ao me tornar médico”, afirmou.
A pergunta que fica para reflexão é:
_ É justo julgar e condenar o Dr Drauzio Varella por realizar, há mais de 3 décadas, um trabalho humanitário independente dos crimes realizados pelos detentos?
Daqui só fica a impressão de que “hatters” de plantão e o público em geral ainda não foi capaz de avançar da condição dicotômica infantil (bem x mal) ao só conseguir classificar pessoas como anjos e demônios (É essa condição que os políticos sabiamente utilizam para rivalizar as pessoas e fomentar o ódio, é bom lembrar). Afinal, o Dr Drauzio, assim como todos nós, não é anjo e nem demônio. Ele acerta e erra. Ele faz escolhas, mas, ao contrário da maioria de nós, ele escolheu uma forma de trabalho onde foi foi capaz de olhar além de tudo de mais horrível que alguém poderia fazer e ainda perceber um ser humano que precisa ser cuidado. E, se agir assim não faz dele alguém digno de respeito, o que poderia fazer?
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Texto de opinião com informações técnicas do Correio Brasiliense.
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