O meu depoimento é real e fidedigno.

Meu nome é Viviane, sou psicóloga sou a mãe do Arthur. Meu objetivo com este depoimento é não só alertar, mas desmistificar um assunto rodeado de tabus e falsos conceitos: a Depressão pós-parto. Acredito que todas vocês já tenha lido inúmeros artigos sobre o assunto, teóricos e técnicos, além do mais, hoje em dia é bem fácil conseguir informações sobre isso. Difícil é falar de como, de fato, a depressão pós=parto acomete mulheres de todas as idades.

A pergunta mais sem nexo que ouvi quando estava doente foi:

-“Mas você? Psicóloga, teve depressão pós-parto?” Como se médicos não adoecessem, e cirurgiões dentistas não tivessem dor de dente!

Eu tive depressão pós-parto e é disso que quero falar com vocês. Acredito que contando minha história possa ajudar muitas mulheres e muitas famílias a perceber e conduzir melhor o problema. Quero também lembrar que, todas nós mulheres, podemos passar por este quadro no período pós-parto, e que, ser psicóloga me ajudou a perceber o que eu tinha, mas não me isentou de sentir, e de sofrer. Somos humanos e, cada vez mais temos que entender que esta condição implica sempre em dualidade, seja de sentimentos, seja de pensamentos. Por mais que a maternidade seja um momento repleto de magia, há que se ter consciência de que não é só seu lado poético que existe. Seu corpo muda, a sua vida muda, a sua mente muda.

Eu tive uma gestação tranquila e sem intercorrências físicas, porém, emocionalmente foi um pouco conturbado e intenso. Logo depois do parto, vieram outros problemas de ordem profissional e acredito que tenham também me deixado mais sensível, porém, essencialmente, a queda brusca de hormônios, associada à mudança radical das atividades da vida diária, me levaram a um estado de profundo desânimo e distorção da realidade.

Via minha vida sem perspectiva nenhuma, não tinha forças nem físicas nem mentais para levantar da cama. Cuidar do meu filho se tornou um fardo e eu não me sentia mais segura longe das pessoas. Ao ouvi-lo chorar, queria correr, fugir e parecia que nunca mais eu seria feliz. Junto disso sentia uma culpa enorme por não estar “radiante” com a chegada de um filho que foi muito esperado e planejado e sentia-me impotente diante do choro dele, não sabia o que fazer. Comecei a ter muitos medos, muitas inseguranças e meus sentimentos eram confusos. Não queria visitas e meu cansaço físico era imenso.  Depois de quinze dias comecei a perceber meu estado e então pedi ajuda à minha família e à enfermeira que estava vindo para cuidar do meu filho.

Acredito, não só por conta da minha profissão, no poder da mente humana e me propus a sair dessa sem eles. Iniciei o uso de vitaminas e fitoterápicos, sempre deixando claro o que eu sentia: as minhas fraquezas, meus limites. Acredito que esconder é sempre uma péssima decisão.

Procurei não me julgar e entender o que eu estava passando, mesmo que muitos ao meu redor não entendiam. Acredito que a maior dificuldade das mulheres que passam por este estado seja a culpa e a cobrança, tanto do meio quanto de si mesma. Os dias foram passando, as coisas foram se encaixando e hoje estou seguindo minha vida normalmente. É possível enfrentar o problema e passar por ele, desde que se aceite, enfrente e haja com acolhimento e aceitação. Negar nunca resolveu nada, e neste caso vale a regra.

Eis algumas informações que podem ser úteis sobre o assunto:

-Segundo pesquisas A Depressão Pós-parto atinge aproximadamente 15% das mães de todo o mundo, porém acredita-se que este número seja bem maior.

-Não se preocupe com isso durante a gravidez, somente após o parto, caso sinta-se deprimida, procure seu obstetra e conte a sua família seus sentimentos e suas sensações.

-Aos familiares vai uma dica: procurem ficar atentos, entendam, não julguem e principalmente, apoiem.

-Mantenha uma alimentação equilibrada e consuma bastante água. Isso ajuda no funcionamento global do ser organismo e por consequência no reequilíbrio dos hormônios.

-A ingestão de antidepressivos é eficaz e ajuda muito, mas deve ser feita com acompanhamento médico.

-Tenha clareza dos seus limites físicos e emocionais, peça ajuda para quem lhe for mais próximo e confiável.

-Não se culpe. Você não é menos mãe e nem ama menos seu filho por conta do que está sentindo. Seus hormônios estão em desequilíbrio, isso altera a forma como você vê o mundo, as pessoas e as situações. Tudo vai passar, acredite.

-Ter depressão pós-parto não significa que você ame menos seu filho.

-Procure ajuda de um psicólogo, ele vai te ajudar a sair mais rápido do estado depressivo.

Quero finalizar lembrando que todos nós estamos sujeitos a tudo, viver é essencialmente experienciar, tanto o bom quanto o mal. Saiba que a condição humana não deve jamais ser idealizada e quanto mais humana for sua vivência, melhor você irá preparar seu filho para o mundo. Ser feliz faz parte da vida. Ao decidir ser mãe você escolheu ser feliz, apesar dos pesares (sim, porque tudo na vida é “apesar dos pesares”)

Nós, seres humanos fomos feitos para “dar certo”, este é o curso natural da vida.

Viviane Battistella

Psicóloga, psicoterapeuta, especialista em comportamento humano. Escritora. Apaixonada por gente. Amante da música e da literatura...

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