Sou uma mulher de cem anos. Meu coração é fraco. Choro ao ler um poema e ao ver um menino no semáforo. Não tenho mais medo da morte, mas amo muito a vida. Amo tanto que cuido. Amo tanto que guardo nas mãos, como pintinho indefeso e sem mãe. Amo tanto que rego as minha flores todos os dias e tento regar as flores dos quintais vizinhos.
Sou uma velha sem importância. Tenho vontade de permanecer em silêncio em meio às tantas falas. Não ligo para presentes e conquistas. Os assuntos desse mundo me interessam menos que um sorriso de uma criança. Fujo da realidade olhando um voo de borboleta.
Sou uma senhora aposentada, não sirvo mais para nada. Tenho a pele fina, os ossos frágeis, os olhos cheios de lágrimas, um sorrisinho nos lábios e o pensamento longe. Tudo em mim se distrai, até minha identidade.
Sou uma velhinha sem forças, mas cheia de sentido no olhar. Sentada, tricotando um cachecol para reaquecer os corações. Pronta para a vida, mas não para o mundo.