Estive em um relacionamento sério com a sua frieza, com a sua falta de modos, com a sua estranha mania de só pensar em si mesmo, com as suas mentiras e com a sua ambiguidade. Estive em um relacionamento sério com a sua falta e esse relacionamento foi tão sério que me fechei em um mundo de difícil acesso e alcance. Eu me fechei para quem quer que fosse.
Quando nos conhecemos, eu estava em um momento calmo e muito bom da minha vida. Me apaixonar não estava nos meus planos. Eu ouvia músicas românticas e não pensava em ninguém. E então, a Vida e seus mistérios, permitiu que você surgisse. E você abalou todas as minhas estruturas, antes tão sólidas. Abalou para o bem e para o mal. Você foi terremoto devido a força e intensidade dos sentimentos que provocou em mim. Mas como todo terremoto, depois o que ficou não era bonito de se ver… Uma rocha quando se quebra, se parte em mil pedaços. Eu me quebrei.
E no meio da destruição, eu perdi um pouco a direção dos passos. Eu não sabia mais se andava pra frente, se retornava ao ponto de origem ou se ia para os lados. Perdi, me perdi. E só tempos depois eu fui entender que a sua presença é que havia me tirado dos trilhos. Quando você sumiu, eu voltei a me encontrar. A sua ausência fez muito mais por mim do que a sua presença. As coisas que você nunca disse, o seu silêncio e a sua falta de notícias na verdade eram o melhor que você poderia me dar. E foi só tendo você bem distante que eu fui entender isso. Dentro de mim enfim havia sossego.
Mas quando a gente acha que a lição foi aprendida, a Vida nos testa. Você reapareceu. E quando reapareceu eu já não estava mais naquele ponto do caminho. Eu havia andado alguns passos, meu cabelo estava mais curto, meu olhar mais centrado e o mais importante: eu já não era a mesma. Você me disse “Olá. Ando lembrando muito de você, te procurando sem te encontrar” e confesso que por dentro estremeci. Mas não estremecimento de excitação. Estremeci de medo. Medo de que você me intoxicasse de novo com seu egoísmo disfarçado de amor. Medo de que eu acreditasse novamente que o seu egoísmo era realmente amor. Medo de que eu caísse na armadilha de inventar desculpas para as suas falhas e acreditasse que na verdade você é assim, frio, por natureza. E por um momento eu quase deixei que isso acontecesse. Eu quase deixei que você segurasse a minha mão, eu quase deixei que nossos lábios se encostassem, eu quase deixei que meu coração sentisse a batida do seu, eu quase te amei de novo, quase. E eu resisti por muito tempo, cinco meses para ser exata, devido ao medo. E foi aí que eu soube que o meu medo não era infundado. Eu não era a única na sua vida. O mais provável é que eu nunca houvesse sido a única. O seu egoísmo continuava sendo a sua principal característica; e sem o mínimo de empatia você arriscou machucar mais de um coração simultaneamente. E você quase conseguiu, quase.
Corri na direção oposta, em direção à sua ausência. Em direção a onde você não estivesse. Você se tornou uma ameaça à minha sanidade. Era como se aquele amor fosse um dia terminar na delegacia. Eu corri na direção oposta com todas as forças que eu tinha, sangrando, confesso, mas decidida a nunca mais permitir que mentiras adentrassem em meu coração e que terremotos me tirassem de mim.
E novamente me reencontrei. A sua ausência era de fato o melhor que você poderia me dar. Radioativo, você não me trazia nada de bom. E eu criei a maior distância que poderia haver entre duas pessoas. Um caminho sem volta. Um tratado assinado pelos dois lados. Tratado não de paz, mas de desligamento. De morte de uma relação, seja ela qual for. O impossível entre nós começava ali. Felizmente. Assim dizia a Lei!
É difícil recomeçar enquanto seus olhos ainda doem. É difícil acreditar no amor novamente enquanto seu coração têm cicatrizes . Mas dentro de mim aquela certeza: a sua ausência era o melhor que você e a Vida poderiam me dar. Eu havia passado no teste, eu realmente havia aprendido a lição!
O próximo passo era me reconstruir do terremoto, das marcas que ficaram na perna e no coração. Mas acima de tudo eu precisava me conscientizar sobre quem eu era e sobre o tipo de pessoa que eu queria que estivesse ao meu lado. Porque só sentimento não basta. É preciso respeito e constância. É preciso verdade e empatia. Eu vi o quanto era preciso a gente se conscientizar das nossas escolhas. E se responsabilizar por elas. Se colocar nas rédeas do próprio destino.
E então, mais uma vez, eu retomei o meu lugar de direito: protagonista da minha própria história. Ciente de cada passo que eu dava e acima de tudo consciente do que eu queria ou não pra minha vida. E então, por um segundo, eu olhei para trás, e te vi cada vez mais distante do meu caminho. Não senti saudosismo, o que eu senti foi muito maior: eu senti alívio. E novamente olhei pra frente e segui firme em busca de amor, o recíproco, mas principalmente: o próprio.
Imagem de capa: Voyagerix/shutterstock
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