“De onde vem essa cegueira eterna que nos faz lidar com o novo usando os velhos padrões?” nos pergunta Basarab Nicolescu, perplexo. O físico romeno, eleito pela Unesco como uma das vinte personalidades que mais influenciaram a educação no século XX, fala dos modelos mentais que nos incapacitam a viver experiências mais plenas.
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Por vezes persistimos em um caminho cheio de dificuldades e barreiras que desaceleram ou até mesmo nos impedem de prosseguir por não sermos capazes de ver outros caminhos, trilhas ou desvios possíveis, as alternativas.
A forma como enxergamos a realidade é que a modela. Vivemos dentro dos limites de nosso olhar, de nossa percepção. Cada um de nós modelou uma lente, uma forma de ver a realidade, ou o que a ciência chama de paradigma. Essa formatação não é a verdade, é apenas um modelo pessoal da verdade.
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Não há perda, desafio, problema ou circunstância com a qual não possamos lidar. Tudo é possível de ser integrado a novos níveis de consciência e, dessa forma, seremos capazes de transcender o desafio sem transgredir com nossos valores e posicionamentos. Aliás, só resolvemos verdadeiramente uma questão se estivermos em alinhamento com nossa própria consciência e guiados por nossos valores mais caros.
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É preciso coragem para ser feliz. Escolher essa condição como desejável, abrir mão de tudo o que não querermos para sermos capazes de obter o que querermos.
Muitos dos valores herdados e das crenças aprendidas foram construídos a partir da perspectiva de outro tempo, mais restrito, de escassez, de medo ou, até mesmo, de intolerância.
Edificamos uma sociedade baseada nessa escassez e aprendemos a desconfiar do sucesso e a não acreditar na condição de uma felicidade perene. “O que é bom dura pouco.” é algo que repetimos como um mantra ou uma oração, sem ter a noção de que tudo o que se repete o cérebro aprende e opera .
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Mesmo em relação àquilo que fazemos com prazer, que é fácil fazer, que adoramos, costumamos dar uma “reclamadinha” para ninguém achar que é fácil.
Esse estado de escassez, a crença de que não há para todos, gera três atitudes pessoais, da seguinte ordem:
Essa primeira atitude gera o egocentrismo ou egoísmo, em que a solidariedade passa a ser uma prática eventual, sem prioridade, compromisso ou responsabilidade.
Essa segunda atitude gera competição. A competição exacerbada levará a um grande volume de “perdedores” ou excluídos.
Essa terceira atitude gera o acúmulo. Essa necessidade de acúmulo gera o consumismo, que provoca ainda maior escassez para os que não possuem recursos e, assim , uma desigualdade crescente.
Agindo com base no egoísmo, na competição e no acúmulo, criamos uma sociedade desigual, injusta e excludente, que leva a uma realidade violenta e insegura. É por isso que estamos vivendo o estado social atual. Uma crença cria todo um sistema de mundo.
Porém, se sairmos da escassez e acreditarmos na abundância, na ideia de que há para todos, de que o sol nasce para todos, de que “o planeta é uma só nação e cada ser humano é seu cidadão”, como nos ensina o fundador da fé Bahá´´i, então poderemos transformar a realidade vigente .
Se desenvolvermos o paradigma da abundância, teremos atitudes diversas ao paradigma da escassez:
Essa atitude gera altruísmo, em que o centro da experiência passa a ser a solidariedade.
Essa atitude gera a cooperação, que vai levar a uma nova forma de convivência e de relacionamento, muito mais fraterna e de ajuda mútua.
Essa atitude gera a partilha, em que as potencialidades e dificuldades individuais são absorvidas pela comunidade, criando uma condição de mais igualdade de oportunidade.
Se os valores de base das pessoas forem o altruísmo, a cooperação e a partilha, essa será uma sociedade justa, inclusiva e próspera. Esse é o estado-base da paz.
Por Dulce Magalhães
Em “O foco define a sorte: a forma como enxergamos o mundo faz o mundo que enxergamos.”
Fragmentos da p 24- 32.
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