por Fernanda Pompeu
Aliás o escritor argentino Jorge Luís Borges (1899-1986) – possuidor de talento em alto grau – cunhou a frase: Talento é uma larga paciência. Ele deixou explicadinha a conexão entre talento e tempo de maturação. Tem outra imagem: talento como diamante bruto, esperando pelo esforço da lapidação. Também há os que creem – me incluo entre eles – que todo ser nasce com algum talento, mesmo que não saiba. Até os cachorrinhos.
Apesar de muito requerido nas artes e na literatura, o talento – ao lado da criatividade – está presente em todos os ofícios. Aprendi isso observando meu irmão, Júlio, dirigir carros. Ele acelera, troca marchas, freia com suavidade de quem carrega, sem deixar cair, um bolo de noiva na cabeça. Além da admiração, incapaz de imitá-lo, morro de inveja.
Existem talentos condenados à invisibilidade: tirar café expresso, virar da forma o pudim no prato, aparar flores. Outros, devido à raridade, são valorizados nos casamentos, famílias, trabalhos e escolas. Por exemplo: o talento de se calar para ouvir.
Daí, vem a pergunta: Talento se aprende? Mentes doutas e tolas tentam responder essa questão. Na minha modesta opinião: talento não se aprende. A gente sai do útero materno com ele. Ou com eles, pois há pessoas com vários talentos. No entanto, concordo que talento sem trabalho é pérola jogada no bueiro, água escorrendo pela pia.
O x da equação é descobrir qual o talento de cada um. Tem quem passa a vida inteira sem saber. Sem responder a pegadinha: O que eu faço de maneira fácil, quase natural? E faço muito bem? Será que é empinar pipa, vender cosmético, namorar, pintar quadros? Hum, encontrar o talento vale 1 milhão de euros, não em dinheiro, mas em felicidade.
Sentir-se e saber-se de posse de um talento é bom demais. Até mesmo quando ele vive em segredo. Milhões de talentos não aparecem por falta de oportunidades. Mas o fato do mundo não saber do seu talento, não arranca ele de você. A estratégia é batalhar para que ele encontre terra para vicejar, janela para aparecer, espaço para crescer.
Sempre acreditei que nasci com talento para as palavras escritas. Talento para fazer frases, criar títulos. Pela razão de sentir facilidade ao escrever e, principalmente, felicidade. Experimento agora alegria e espontaneidade ao redigir esta crônica.
Certamente, eu achar que tenho talento para escrever não resolve tudo. Faz anos procuro páginas e telas para trabalhar e mostrar os meus textos. Numa larga e, penso, eterna paciência.
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