Pode o amor ser sustentado apesar das experiências passadas? Apesar da cultura pré-estabelecida que nos fora ensinada desde novos? Procura-se Amy, clássico noventista (1997) de Kevin Smith dialoga sobre essas questões com o típico humor negro presente na sua vasta filmografia. Estrelado por um Ben Affleck – ainda em início de carreira, Joey Lauren Adams e Jason Lee, a produção busca refletir os descaminhos do conservadorismo e da liberdade sexual de uma geração que, mesmo propagando um suposto respeito e conhecimento acerca das escolhas, na verdade, transparece de forma latente a prepotência e as dúvidas de uma vida.
Procura-se Amy é um daqueles filmes que melhor consegue capturar a essência das relações afetivas. Amizade e amor caminhando lado a lado por um ponto de vista totalmente próximo da realidade, e não na medida rotineira e preguiçosa da maioria das produções hollywoodianas. Pouquíssimo conhecido pelo grande público, mas muito apreciado pela crítica especializada, o longa traça algumas semelhanças com todo esse material romântico já visto nos cinemas, mas sem perder a honestidade e legitimidade de apresentar algo fresco. E consegue. Affleck vive Holden, um jovem descolado e, no entanto, preso a crenças conservadoras. Até que conhece Alyssa, papel de Lauren Adams, bonita, divertida e com uma sintonia perfeita para ele. Mas é lésbica. Alyssa quer apenas ser amiga de Holden. No meio disso, Banky, encarnado por Segel, questiona se realmente vale a pena ser amigo de uma mulher que ele não vai nutrir qualquer relacionamento sexual. E nas piadas sexistas, repletas de diálogos vorazes e perceptivos, Kevin Smith vai delineando essa jornada. Desconstruindo tabus, criticando uma sociedade contemporânea sugada de preconceitos machistas e não por menos, sem se esquecer de contar a história de amor apresentada na premissa.
Referência na cultura pop e também sendo o trabalho que alavancou o status de Kevin Smith como um dos cineastas mais perspicazes e autênticos do cinema americano, Procura-se Amy foi feito para quem acredita na saída da zona de conforto. Que é possível entender os pormenores das relações emocionais sem cair nos clichês afirmativos. Um trabalho de autoconhecimento fundamental para o abandono da imaturidade que insistimos em perpetuar. Talvez o amor não seja algo tão complicado, mas para reconhecer a sua amplitude, antes de tudo, o coração necessita conversar francamente com o bom senso. Faz parte do pacote.
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