Talvez seja hoje o dia de retornarmos à velha natureza, mas não àquela do mundo. Talvez seja hoje o tempo de retornarmos humildes à natureza que nos habita.
Talvez seja hoje o dia de sairmos à caça de respostas cujas perguntas estão esquecidas em nós.
Talvez seja hoje o dia de abandonarmos a sensatez e de nos entregarmos à sandice de adentrarmos os vastos bosques que nos habitam, descalços.
Talvez seja hoje o dia para exercitarmos a fé e crermos que, mesmo quando a noite cair – e nos virmos sozinhos no escuro de uma floresta – um novo sol virá, um novo recomeço será, um novo sonho dançará em frente aos nossos olhos e quem sabe, um novo amor poderá cair sobre nós feito chuva de verão.
Talvez seja hoje o dia para perguntarmos aos loucos como eles conseguiram sair dos caminhos meticulosamente traçados pela razão.
Talvez seja hoje o dia de enterrarmos nossos mortos para darmos novas chances aos vivos. Talvez seja hoje o dia de negarmos ao corpo o medo e de acreditarmos que somos maiores que todo o desconhecido que nos permeia.
Talvez seja hoje o dia em que nascerá em nós a percepção que nos dirá de quem realmente somos.
Talvez seja hoje o dia de acreditarmos em algo maior e melhor. O dia de crermos e aceitarmos que o outro não nos matará, mas sim nos amará longa e profundamente.
Talvez seja hoje o dia de esquecermos o que nos contaram e de entregarmos em novas mãos, novas possibilidades.
Talvez seja hoje o dia de nos encontrarmos em diferentes etapas da vida e de tirarmos nossas próprias conclusões acerca de tudo que disseram de nós. Talvez seja hoje o tempo que nos cabe para vencermos as armadilhas do mundo e aquelas que nós mesmos armamos dentro do nosso eu.
Talvez seja hoje o dia de cavalgarmos os potros selvagens que infestam nossos instintos e de deixá-los nos guiar ao encontro das nossas mais profundas aspirações.
Talvez seja hoje o dia de admirarmos o melhor em nós. De encontrarmos a coragem que mora na cabana de nossa alma e de abandonarmos os destroços dos nossos erros do passado.
Talvez seja hoje o dia de perdoarmos nossos tropeços, de olharmos para o horizonte de um jeito novo, de amarmos sem pudores e de nos deixarmos amar, onde e quando tivermos vontade.
Talvez seja hoje o dia de enfrentarmos o desconhecido que nos habita e de nos afeiçoarmos à nossa natureza, ouvindo nos sons vindos do nosso eu mais profundo, as mais belas melodias.
Talvez seja hoje o dia de finalmente sermos, de finalmente realizarmos, de finalmente nos aprumarmos para, em nossa humanidade, sermos tudo aquilo que precisamos ser para, com êxito, sermos os donos dos nossos próprios caminhos.
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