A nossa sociedade líquida exerce pressão sobre o corpo humano, onde surgem os sintomas do corpo que se expressa em uma fala “velada”. A psicanálise entra na cena para analisar o processo de esgotamento da subjetividade dos indivíduos, no tocante às doenças do corpo e da alma.
Nessa fala oculta, o inconsciente mostra que habita no corpo: o discurso hipocondríaco, a linguagem histérica e o distúrbio psicossomático, que se revelam em anorexia, bulimia, vigorexia e outras patologias. Todas oriundas de cobranças absurdas sobre o corpo, que em alguns casos têm levado a morte ou o suicídio de mulheres e garotas.
Há poucos dias, em Dublin, Irlanda, uma menina de 11 anos, foi encontrada em estado crítico no quarto depois de tentar suicídio. Ao ser levada para o hospital, ela não resistiu e morreu. Antes se cortou e escreveu com o sangue: “Garotas bonitas não comem”. Outro caso é o da bancária, de 46 anos, que morreu após sofrer uma cirurgia estética na casa de um médico, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Hoje as estratégias de manipulação sobre o corpo que fala, mas que também “grita,” está na mira de uma força mediática e narcísica que produz um quadro psicopatológico, que debilita os sujeitos em relação ao seu corpo.
As pessoas que se orientam pelo culto ao corpo buscam nas “ofertas” da medicina estética e da indústria de cosméticos uma incessante repaginação corporal. Essa concepção do corpo escultural é recriada a todo o momento pela mídia, como ideal de uma vida feliz.
Isso cria no imaginário coletivo de homens e mulheres, sobretudo, de jovens, que um corpo “sarado” será mais aceitável em novos relacionamentos, uma vez que pessoas obsessivas pelo corpo perfeito exigem do outro também um corpo perfeito.
Essas relações terão problemas para estabelecer uma conexão saudável, porque tudo gira ao redor do corpo, colocando os princípios morais, espirituais e psicológicos em último plano.
Trata-se de um corpo habitado por elementos simbólicos, que diz muito sobre o sofrimento inconsciente dos sujeitos. As angústias e ansiedades da era vitoriana de Freud e de hoje têm a mesma narrativa burguesa do corpo, encobrindo o vazio existencial, que separou o corpo do indivíduo.
Porém, é só através do corpo, mente e espírito livres de disfunções de qualquer natureza, emancipados pela inteligência emocional, que não aceita que o corpo se curve diante das bizarras dietas, das invasivas cirurgias estéticas, da erotização perversa, do martírio religioso, da opressão econômica e dos apelos para o consumo de drogas e álcool.
A resposta para isso é cuidar do corpo com gentileza por meio da higiene adequada, da alimentação saudável, do uso certo dos medicamentos, da prática orientada de exercícios físicos, como o caminho para evolução da nossa saúde psíquica e espiritual. O que nos permitirá interagir com o mundo material e sensorial de modo equilibrado.
Assim, a nossa maior tarefa psicoespiritual é dizer não a “coisificação” do corpo, cuidando dele com respeito, para que possamos vencer os desafios do cotidiano, sem entrar na neurose do corpo perfeito, mas esgotado na sua subjetividade e alienado pelas doenças da alma.