“Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi no espelho, já tinha envelhecido.” Essa crua constatação está no poema Tabacaria, do intenso Fernando Pessoa (1888-1935).
Pensando melhor, nem se trata de uma única máscara. Bem mais, de um conjunto. Já que usamos várias. Pregamos na cara, máscaras que vão se alternando conforme os cenários.
O uso de máscaras é estimulado desde a infância. Uma máscara de boa menina para a menina rebelde. Uma máscara de menino machinho para o menino gentil. A escola, em geral, é uma fábrica de disfarces.
Na vida adulta, o mascaramento continua no mundo do trabalho. Nele, somos encorajados a disfarçar maneiras autênticas de ser. Somos engessados em modos de vestir, sorrir, conversar. As pessoas chamam isso de cultura da empresa.
Mas no fundo sabemos que é a cultura da uniformização, do pensamento único e do modo hierárquico das tomadas de decisões. E todos desfilam mascarados pelos corredores e pelo cafezinho. O alto executivo, a chefe do RH, o motoboy.
Quem mais perde com tudo isso é a sinceridade. A expressão do que cada um é sem filtros ou véus. Aqui também vale citar o poeta Paulo Leminski (1944-1989): “Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é, ainda vai nos levar além.”
Fato! A sinceridade nos leva além do que temos. Ela desafia o coro dos fingidos. Põe verdades na mesa das convenções. Demonstra que ocultar o que somos é um mau negócio. Nos torna infelizes.
Faz algum tempo que resolvi escrever com sinceridade. Não mais tentando ser Clarice Lispector ou Lygia Fagundes Telles. Muito menos ser aquela que experimentará máscaras para dar certo. Descobri que a gente só dá certo assumindo a cara limpa.
É claro que a sinceridade nos coloca em risco real. Haverá aqueles que se decepcionarão, pois esperavam algo maior de nós. Paciência! Pois também haverá os que se identificarão com nosso jeito de ser e fazer. Nada mais bonito do que um rosto sem máscara.
Imagem de capa: Alex Valent/shutterstock
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