Amor é fonte generosa. Multiplica-se, propaga-se, encontra caminhos e maneiras de tocar seu objeto de afeição.
Amor em demasia sempre vem acompanhado daquele apego que gruda, do ciúme que intimida, da dependência que aprisiona. Se há amor sobrando, é preciso escoar, descobrir alternativas, manter saudável o nível e o humor deste amor.
Amor mau humorado resmunga.
Amor em exagero sufoca, afoga, asfixia.
Se já é tarefa árdua tentar equilibrar as trocas de amor, impossível avaliar o que fazer com o amor excedente, o que transborda, que, longe de ser recusado, simplesmente sobra numa relação que não o comporta.
Amor que sobra tem que ser escoado. É imperioso encontrar um caminho diferente, uma forma de distribuição mais justa e coerente, o resgate de afeições esquecidas e carentes desse amor.
Somos seres cercados de amor por todos os lados. Família, amigos, colegas, companhias eventuais, personagens da rotina diária, exemplos, admiradores. Em tudo colocamos ou esperamos amor. Do mais rasteiro ao mais profundo, guardadas as escalas e proporções.
Canalizar para apenas um afeto é sentença de morte e transformação desse amor em outro sentimento, quase sempre oposto. É preciso distribuir, escoar, deixar fluir, sem retenções nem exceções.
Ninguém dá conta de um amor exclusivo e integralmente seu. A oferta faz bem somente para a vaidade, porque na real, esse amor vira um grande e pesado fardo, terminando por ser jogado de lado e trocado por um amor mais leve.
Amor é estrela de várias pontas e quem opta por utilizar a luminosidade de apenas uma em potência máxima, acaba por se sabotar e colapsar o equilíbrio do que deveria ser um sistema claro e justo, queimando e ferindo quem estiver em sua direção.
Quem consegue irradiar amor, não precisa sequer esperar reciprocidade. Ele volta, na medida certa.