Eu vou lhes confessar, nada é mais chato para mim do que intelectuais acadêmicos e anônimos criticando famosos com o argumento de que são ruins tecnicamente.
Canso de ler que o Paulo Coelho escreve mal, que o Romero Britto pinta mal, que o Dráuzio Varella é um médico medíocre e também, falando especificamente sobre a psicologia e a psiquiatria, sempre ouço e leio colegas criticando o Dr. Flávio Gicovate. Todos os profissionais que citei são muito famosos, muito bem remunerados e suas carreiras são de sucesso. São reconhecidos nacional e/ou mundialmente e têm uma característica em comum: levaram seu trabalho ao grande público, à grande massa.
Pessoas que talvez não conheçam nada sobre arte moderna certamente reconhecem com facilidade uma pintura assinada por Romero Britto. Acredito que há quem tenha lido apenas os livros de Paulo Coelho e estou certa que, em seus programas no Fantástico o Dr. Dráuzio levou informação a quem jamais teve a atenção de um médico. Sobre o Dr. Flávio – cuja carreira como médico psiquiatra e psicanalista é bem longa e sólida: ele ganhou ainda mais repercussão por atuar em um programa semanal em uma grande rádio e manter canais na internet muito acessados. Seus livros e vídeos são de fácil entendimento e levam conceitos importantes ao que chamamos de senso comum. Acredito que a importância do trabalho dele, tal qual da Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, está exatamente em expandir o que antes ficava fechado dentro dos consultórios.
Em minha opinião todos eles têm algo chamado talento e o talento não consegue ficar preso às regras, normas e pré-requisitos acadêmicos de qualquer arte ou profissão. Já ouvi críticas horrorosas ao trabalho deles exatamente porque o talento os fez famosos e aqui deixo a minha reflexão, que vem da história de vida de um famoso maestro que compôs sua primeira obra aos quatro anos. Mozart nunca seguiu regras, era um gênio. Quando se tem uma pequena pitada de genialidade, isso se chama talento, e isso faz com que se saia do usual. Freud foi um gênio, e eu que – mesmo tendo tido formação behaviorista – li quase toda a obra dele, percebi sua genialidade quando percebi quem era aquele homem e o ambiente no qual ele cresceu e viveu. Quando se tem talento, se traça um caminho próprio mesmo que seja para reproduzir a obra de um grande gênio. Quando se é gênio, não existem regras.
Respeito muito e acho de extrema necessidade que o olhar acadêmico exista e permeie as ciências e as artes, porém, talvez tenhamos que pensar que são esses talentosos desobedientes e burladores dos dogmas acadêmicos que levam a muitas pessoas alguns respingos de arte e ciência que eles jamais conheceriam. Eu li alguns livros do Paulo Coelho e acho bem bacana o Alquimista, além de achar fantástica a história da moça que vive cada dia como se fosse o último em Verônika decide Morrer. Muita gente talvez tenha começado a ler através dele e estou certa de que Romero contribuiu para que brasileiros que não sabem nada sobre arte conheçam “sem conhecer” o cubismo. Dr. Dráuzio se dispõe a ensinar conceitos básicos de saúde, usando linguagem simples, coisa que poucos intitulados com pós-doutorado se dispõem a fazer.
Não entendo esse ódio acadêmico a eles, tal qual entendo menos ainda as razões de eu ser criticada ao optar por escrever artigos para o senso comum, sem comprometimento acadêmico algum e somente com a pretensão de promover a reflexão e contar como vejo a vida. Sim, eu daqui da minha confortável insignificância também já recebi críticas por não seguir as tais regras. Que regras? Quem sabe eu não tenho algum talento!
Desde quando eu atuava como psicoterapeuta, eu sou questionada por alguns comportamentos, principalmente por psicanalistas que acreditavam que eu, como behaviorista por formação desconhecesse os mecanismos de defesa e as fases do desenvolvimento descritas por Freud. Como se um caminho apenas levasse a “deus”, e como se a psicanálise fosse método sagrado e único de autoconhecimento e promoção da saúde mental. Dr. Flávio está aí para mostrar que se pode sim ser psicanalista e levar a teoria para fora do divã, para que muitos possam se beneficiar. Somos – enquanto psicoterapeutas, como muito bem disse o mais apedrejado discípulo do Dr. Freud: apenas uma alma humana a tocar outra alma humana. E cá lhes confesso que foi exatamente a terapia analítica de Carl Jung e a fenomenologia de Fritz Perls os meus maiores veículos de autodesenvolvimento durante os meus muitos anos de terapia. E poderia ter sido a psicanálise ou o próprio cognitivismo.
Desde que o mundo é mundo, os acadêmicos presos aos dogmas engessados tem gasto seu tempo criticando os indisciplinados talentosos e talvez a teoria de Freud sirva bem para quem se dispuser a analisar o que os leva a criticar quem optou por trabalhar liberto e tão benéfico quanto o bom e velho divã. No mais, se encanta e ajuda a tanta gente, qual o crime deles? Fizeram algum mal? O caminho pode ser aceitar as diferenças ou procurar a razão de tanta irritação – Dr. Freud explicaria.
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