O livro Confiança e Medo na cidade de Zygmunt Bauman propõe uma reflexão da nossa vida nas cidades, onde a arquitetura de aglomerados contribuem com o isolamento urbano, deixando as pessoas presas em si mesmas pelo medo dos outros. E leva a cada um de nós a questionar: Temos medo de que nas cidades?
Muitas cidades tornaram-se segregacionistas, que isola os espaços urbanos de acordo com a hierarquia social, ou seja, entre as classes ricas, a classe média e as classes mais baixas. Viver nessas cidades cria uma sensação de pânico e solidão, mesmo que o perigo possa ser fantasiado. Mas isso não diminui a ansiedade, o que a agrava ainda mais a expectativa de ameaça.
Estamos vivendo em cidades em que o sentimento de desemparo é recorrente. Além disso, somos espremidos pelos padrões de vida e beleza, pelas condutas violentas, pelas coerções religiosas e morais, pela crise política e econômica. Esses padrões são raramente, impossíveis de serem atingidos, pois negam o que temos de mais transcendente: a nossa singularidade.
Esse modelo de urbanização é um dos principais fatores para produzir um estilo de vida neurótico, que amplia a dinâmica do consumismo, da reprodução de centros residenciais e comerciais, com o objetivo de atender os interesses do sistema financeiro: “de uma vida boa para minoria e de uma vida ruim para maioria”.
Por isso, que têm pessoas que ao sair de casa necessitam tomar ansiolíticos e outras convertem suas casas ou condomínios em fortalezas e veículos em blindados, tornando os custos da qualidade de vida nas cidades altíssimos, visto que a vida privada se apropria da vida coletiva.
É evidente que a violência urbana tem aumentado o “medo neurótico”, que dispara o coração, acelera a respiração, esfriam as mãos, além de alterar o nosso estado emocional. Esse medo de coexistir nas cidades marcará a nossa memória, mesmo em uma situação de perigo real ou fantasioso.
Hoje é um ato de coragem viver nas médias e grandes cidades brasileiras, uma vez que o acesso ao trabalho, estudo, lazer, etc, está permeado pelo medo da violência urbana. Homens, mulheres, crianças e adolescentes da classe trabalhadora e média têm suas vidas ceifadas pela violência urbana, porque o Estado é incapaz de garantir a segurança da população, sobretudo dos pobres.
Enquanto isso, a corrupção na política colabora para arruinar o país, como é o caso do Rio de Janeiro. Nesse cenário, o poder econômico fala mais alto do que os interesses dos cidadãos, retirando o direito à cidade, que acabou tornando-se um dos direitos mais negligenciados no Brasil, permitindo que o crime organizado controle as comunidades e avancem sobre os demais espaços urbanos.
Enfim, precisamos reverter essa lógica de urbanização, que gera adoecimento dos seus cidadãos, notadamente dos mais vulneráveis, garantido que as cidades sejam inclusivas e confiáveis, afirmando o direito da população de gerir o processo urbano, em oposição aos interesses de empresários inescrupulosos e governos corruptos.
Imagem de capa: WeAre/shutterstock
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