Deus é grande, sim. Imenso, maravilhoso, impecável. Escreve certo por linhas tortas, tarda mas não falta, ajuda a quem cedo madruga. Mas eu tenho a impressão de que Ele tem mais o que fazer além de solucionar nossos problemas pessoais. E acho, assim, num devaneio, que alguns pedidos nossos Lhe causem muita graça.
Generoso com todos os seus filhos, Deus deve relevar cada coisa! Quando pedem a Ele a solução de uma pendenga financeira, por exemplo, esperando que um maço de dólares despenque do céu, Ele deve suspirar enfastiado. Sobretudo quando se dá conta de que o remetente do tal pedido é alguém gozando de saúde perfeita, com uma cabeça sobre o pescoço e o mundo inteiro à disposição. Alguém com as ferramentas mínimas para trabalhar e buscar o dinheiro de que precisa, mas que prefere pedir a Deus porque assim é mais fácil.
Em suas conversas com Santo Antônio, “o casamenteiro”, Deus decerto relaxa em longas gargalhadas. Porque só o amor e o humor divinos para relevar o mau gosto de simpatias estranhas como o “sequestro” do Menino Jesus dos braços do Santo, em troca de um “bom partido” para casamento.
O Criador deve rir gostoso nessas horas. E com um tapa nas costas do bom Antônio, o abençoa e pede a ele que resolva cada caso como possa. “Mas primeiro os merecedores, Antoninho. Primeiro os merecedores!”.
É claro. Em toda a Sua infinita sabedoria, só Deus sabe o quanto é duro viver por aqui. E que é preciso merecer a vida todos os dias. A quem não foge dessa obrigação, Ele deve olhar com simpatia e todo o Seu amor escandaloso.
Porque quem acredita mesmo em Deus não espera que Ele faça por nós o que é nossa obrigação. Quem acredita em Deus pede a Ele, sim, mas faz a sua parte. Trabalha, enfrenta, avança, recua, cai, levanta, pensa. Mistura fé na vida, amor no coração, vergonha na cara e vai em frente. E a todas essas agradece. Agradece por tudo que há.
De que adianta acreditar em Deus e fazer nada para Ele também acreditar em nós? Será mesmo que o Papai do Céu há de nos salvar se nós aqui esperarmos sentados? Será que Deus há mesmo de fazer por nós as coisas que nos cabem realizar aqui e agora?
Não será uma pretensão ridícula e perigosa do ser humano achar que é tão especial assim a ponto de nada fazer por merecer e apenas aguardar a sua hora de ir para o Céu, enquanto um monte de gente padece aqui embaixo o inferno da fome, do frio e da dor sob nossos olhos indiferentes e nossos passos de pressa? É gente matando gente, bicho, planta, tempo! Gente odiando quem passa perto, querendo mal quem está à frente. Gente piorando cada segundo da vida e pedindo ao Espírito Santo um futuro melhor.
Deus que nos perdoe. Mas essa história ainda vai longe. Vai até a gente aprender a mudar as coisas aqui e agora. Porque o futuro a Deus pertence. E decerto, lá de cima, Ele está vendo tudo e repetindo: “Me ajuda a te ajudar, meu filho. Me ajuda a te ajudar!”
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