Tenho amigos de infância que conheci na vida adulta.
Pessoas que, sem querer, sem receio ou demagogia, apareceram em alguma esquina do meu caminho, me pegaram pela mão e pelo coração e com os olhos cheios de liberdade me convidaram ‘vamos brincar!’.
Fiz amigos depois de adulta que parecem me conhecer desde o berço, parecem que me viram crescer, que caminharam ao meu lado por todos esses anos. Compartilhando quedas e conquistas, ideias e planos.
Tenho amigos que, apesar de nunca termos morado na mesma cidade, bairro, estado, ou frequentado a mesma escola, aula de inglês ou brincadeiras de rua, traçamos caminhos paralelos de vida e aprendizado e por alguma feliz coincidência, nos encontramos e reconhecemos.
Tenho amigos que descobri depois de velha que, inexplicavelmente, sabem completar minhas frases, sentem como se estivessem na minha pele, pensam como se compreendessem profundamente os meus pensamentos. Me conhecem muito mais que minha mãe, meu terapeuta e meu marido. Amigos que me adivinham, que chegaram prontos e inteiros, se encaixando tão bem nas dimensões do meu coração.
Fiz amizades na vida adulta que me resgatam a infância. Amizades com gosto de sábado à tarde, castelo de areia, picolé de frutas, acampamento no quintal.
Dividimos os segredos, os medos, as dúvidas, as aventuras. Brincamos, sorrimos, choramos. Conversamos sobre o mundo e suas possiblidades, sobre a amplitude da vida e sobre as pequenas coisas que, na grandiosa e fugaz vida adulta, passam desapercebidas. Nos encontramos para celebrar a existência.
Nos interessamos mais em saber como vamos aproveitar o dia do que como vamos ganhar a vida.
Tenho a sorte de ser adulta e ter amizades infantis. Daquelas sem formalidades, mas cheias de curiosidades, conversas intermináveis, imaginação solta. Energia que transcende tempos e espaços.
Tenho a sorte de nesta fase ‘madura’ ter encontrado a textura verde e fresca de uma amizade pura.
Imagem de capa: Dean Drobot/shutterstock
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