Imagem de capa: Ekaterina Pokrovsky, Shutterstock
Você já deve ter ouvido ou pronunciado essa frase, não é? Quando aquela pessoa falou isso para você, como você se sentiu? Como foi falar isso para alguém? Pois é, cada vez mais ela está presente nos nossos encontros e desencontros amorosos.
Há tempos, venho pensando em escrever algo sobre essa situação, só que, até então, parecia-me um assunto muito particular de comentar, até porque uma parte de mim acreditava que ela, de certa forma, era necessária. Principalmente quando estamos naqueles momentos mais conosco, ou após términos de relacionamentos. O tempo vai passando, nós vamos aprendendo e, hoje, convido você a ver isso de outra maneira.
Para começarmos a nossa conversa, eu vou ter que me adiantar um pouco a esse sentimento de medo de gostar, entregar-se, apaixonar-se, e conversar sobre projeção, imagem e sofrimento.
Vamos lá:
Projeção é o que eu acredito ser verdade, de acordo com o que eu capto com os meus sentidos e com o que processo em minhas memórias. Por exemplo: eu olhar um rato, processar na minha mente e identificar que, de acordo com o que vivi até agora, esse animal é para mim algo perigoso e nojento. A partir daí, ativo a minha resposta de medo e pânico. É o mesmo processo quando vejo outro rato – Mickey Mouse: esse possui uma característica inocente e bem humorada nas minhas memórias e, com isso, ativo a minha vontade de olhá-lo e de me divertir com ele. Perceba, está tudo na sua mente e está bastante envolvido com as crenças do seu passado. Eu projeto o que é bom ou ruim, de acordo com a minha interpretação.
Imagem é o resultado dessa projeção. Traços e características de objetos e pessoas, de acordo com essa percepção. Por exemplo, Fulano é tímido; uma pessoa é tímida comparada ao que internamente eu considero medida de timidez (eu mesmo, ou outra pessoa que conheça). A autoimagem é quem eu digo que sou de acordo com que existe em minhas memórias. Por exemplo, alguém pode acreditar ser feio porque as pessoas, em geral, não reparam muito nele ou porque já falaram isso para ele (e existem várias pessoas assim).
Sofrimento é quando me mostram - a vida em geral – que eu estou errado. É quando a minha projeção não funciona mais, quando o que deveria acontecer não acontece, quando aquela pessoa que deveria agir de uma forma não age e quando eu deveria ser um tipo de pessoa, mas, na realidade, não sou. Basicamente, quando minhas expectativas são frustradas.
Você pode perceber, aqui, a ligação desses 3 processos: a nossa projeção cria uma imagem (nesse ponto, cada um cria a sua) e, quando a imagem torna-se imperfeita, gera sofrimento. E esse sofrimento tende a aumentar com a nossa dificuldade de aceitar a imagem como é.
E sofrimento acumulado, o que gera?
Sem saber o que fazer com a situação e muitas vezes culpando o outro pelo ocorrido, nós começamos a construir muros à nossa volta, para que ninguém se aproxime. Isso tudo, para que não cheguem assim tão rápido, tão facilmente, e não nos levem o que temos de importante: o nosso coração. E, assim, nasce uma fortaleza oca, uma armadura, uma amargura, um medo e rejeição do outro, uma separação de outros, um não pertencimento, uma apatia, um sentimento de infelicidade e uma descrença teórica no amor.
Agora, voltemos à frase:
Tenho medo de me entregar a um novo relacionamento porque já sofri antes.
Perceba que, pela nossa mente estar condicionada a essa projeção, querendo ou não, iremos, em algum nível, sofrer. Você não é o único ou a única.
Pergunte-se:
Quando você embarcou nos relacionamentos, você a todo momento se amou?
O que muitas vezes acontece, e não estou dizendo que é o seu caso, é que deixamos a nossa casa aberta, sem dono, para qualquer um entrar. Deixamos portas e janelas escancaradas e tudo o mais abandonado. Depois alguém entra, inclusive um mero ladrão, e nos queixamos que ele se apropriou de uma parte nossa e depois fugiu. Mas quem será o real culpado: quem invadiu ou quem se abandonou? Será que isso existe? Existem vítimas? Tudo estava aberto e abandonado…
Ei, vamos fazer um muro para nos proteger?
Isso significa deixar tudo como está e ainda chamar o medo e a insegurança para morar conosco. Perceba que ser forte não é quem quer só se proteger a todo custo, mas sim quem se valoriza e se ama.
E quando você se valoriza e se ama, não precisa de escudos: quem não o amar no nível em que você se ama não terá espaço.
A sua casa está tão bem cuidada, limpa e bela, que só trazendo algo que combine com ela é que o outro terá realmente o seu lugar. Só realmente pertencendo àquele lugar é que ele ficará. Antes, com muro, alguém que conseguisse subir e passar poderia entrar, sem problemas, e mais uma vez encontraria aquela casa abandonada (outra dose de sofrimento, por favor).
Então, meus amigos, cuidem de suas casas e de seus jardins. Não criem muros, mas plantem lindas e perfumadas flores. Não percam tempo barrando quem chegar, pois, se o lugar dele for ali, ali ficará; assim como seus familiares, amigos, colegas.
Não deixe o medo tomar conta do que você tem de belo, abra-se para o amor (próprio), que ele mesmo se encarregará de tudo. Seja o amor que só você pode se dar.
O Deus de amor que habita em mim saúda o Deus de amor que habita em você. Que o amor possa ser mais do que uma palavra ou um sentimento, que ele seja o seu próprio Ser.
E assim é.