Por vezes, eu acho que é muito bom ser ridículo, por exemplo, num amor recém nascido, como é bom ser ridículo! Numa história fresca na nossa vida, como é importante a pieguice que nos baixa, o clichê das frases e das sensações tão antigas. Como é bom sentir o universal friozinho na barriga e falar dele e senti-lo livremente.
Como é bom o ‘boa noite amor’, o ‘eu te amo’ da madrugada, por mais batida e surrada que essa frase seja. Como é bom se tornar o chato da turma, aquele que enquanto todos reclamam da política, do trânsito, da rotina, fica concordando com tudo e sorrindo, porque está vivendo o ridículo momento do passarinho verde.
Como é bom olhar a lua, sentir o vento, receber mais uma multa e achar que tudo bem, que tudo lindo! Ficar ouvindo 100 vezes a mesma mensagem de voz que não diz nada, mas faz cócegas na orelha. Como é bom começar a achar graça em tudo!
E quem nunca foi exageradamente ridículo numa dor de cotovelo? Quem nunca chorou cantando alto, achando que a música ‘Sozinho’ do Caetano Veloso foi feita exatamente pra você?
Como é bom, apesar de depois acharmos feio e constrangedor, ser livre e abertamente ridículos, contar as dores de amor para a manicure, para a pessoa sentada ao lado no ônibus, para a outra ex-namorada que te entende tão bem, como é bom vomitar dores no ouvido do garçom! Viver os momentos sendo assumidamente ridículo, até lavar a alma.
O ridículo enche nossas vidas, afinal o que seriam dessas rotinas insossas se não fossem os dramas mexicanos que nos inundam de enredos e histórias pra contar, que nos tornam interessantes para os nossos amigos, que nos fazem querer encher a cara e nos compartilhar? O que seriam dos insípidos dias se não fosse o perfume doce e brega de uma paixão adolescente? E o que seriam das histórias de amor se não deixássemos nosso lado ridículo aflorar e alimentar uma energia boa que vibra na gente?
O ridículo é semente, o ridículo é a desanestesia, é o acordar para sentimentos simples, mas que ainda me tocam, é perceber que ainda há tutano e energia vital por trás dessas minhas orgulhosas e imponentes cicatrizes.
Eu não tenho medo do ridículo, eu tenho medo das pessoas que, por pura escolha sensata, esqueceram como sê-lo.