Tive um sonho, de Hugo Santos (Interpretação de José-António Moreira)

Tive um sonho
(Hugo Santos)

Tive um sonho: uma escola aberta, voltada para a luz dos astros, com uma vozinha a inquirir-me do fundo da sala: «Eh, professor, tu sabes isto?». E eu a dizer que não e a esperar que me ensinem.

Tive um sonho: uma escola sem horários, aberta de manhã à noite, com as paredes forradas de pássaros e de sonhos, e com bolas de sabão voando por dentro do coração das palavras e dos números.

Tive um sonho: uma escola sem planos, sem fichas, sem esboços, com a vida sentada a nosso lado, a ensinar-nos as canções de todas as infâncias e a mostrar-nos por onde passam os rios de todas as memórias.

Tive um sonho: uma escola com o chão atapetado de música, para que nos passos ressoem os acordes dos assombramentos.

Tive um sonho: uma escola dentro dum oceano, para que todos pudéssemos ser pescadores de pérolas e utopias.

Tive um sonho: uma escola debruçada para o país que somos e para o país que temos, para que professores e alunos aprendam todos os dias onde descansam os vales, vigiam as serras e o coração das coisas adormece no justo lugar em que as palavras e as emoções se confundem.

Tive um sonho: uma escola com uma floresta crescendo por dentro das salas, alcatifada de nenúfares, com a luz a bater nas folhas das palavras e os frutos crescendo nas pequenas mãos entreabertas.

Tive um sonho: uma escola que diga: «Aqui é a tua casa. Entra». E, ao entrar nos apercebamos de que aquela é a nossa casa e que, para lá dela, todas as outras casas nos pertencem.

Tive um sonho: uma escola onde o olhar saiba adormecer serenamente como os silêncios e não seja precisa a voz para proclamarmos a festa de estarmos.

Tive um sonho: uma escola onde ensinar e aprender sejam sinónimos e não se saiba nunca o suficiente para nos congratularmos com o êxtase da sabedoria.

Tive um sonho: uma escola, um álamo, um rouxinol anunciando as albas e os crepúsculos. E nós a garatujarmos em papel transparente o coral duma lágrima de emoção inesperadamente sobrevinda.

Tive um sonho: e por dentro do sonho uma casa, uma escola, um regato de peixes prateados. E o Sol, grande, de mil cores, dos desenhos das crianças a pousar-nos nas mãos enternecidas.

Interpretação de José-António Moreira

CONTI outra

As publicações do CONTI outra são desenvolvidas e selecionadas tendo em vista o conteúdo, a delicadeza e a simplicidade na transmissão das informações. Objetivamos a promoção de verdadeiras reflexões e o despertar de sentimentos.

Recent Posts

Cuidados para manter os fios saudáveis antes e depois de tingir

Mudar a cor dos cabelos é uma forma simples, mas eficaz, de renovar o visual…

5 horas ago

Como transformar sua lavanderia em um espaço bonito e funcional

Lavanderia costuma ser sinônimo de bagunça. São roupas sujas, roupas limpas ainda não guardadas, piso…

5 horas ago

Como análises gráficas ajudam no planejamento de operações de curto prazo

No mercado financeiro, a capacidade de antecipar dados tende a ser um diferencial para obter…

6 horas ago

Viver em cidades litorâneas: como a localização impacta a qualidade de vida

Tem gente que diz que basta sentir o cheiro do mar para o dia começar…

6 horas ago

Reproduzir os sabores dos food trucks em casa

Tem algo nas comidas de rua que conquista a gente de primeira — seja pelo…

6 horas ago

Médico detalha morte do papa Francisco e revela seu último arrependimento

Francisco queria seguir como papa até o fim e se despediu com um arrependimento tocante,…

18 horas ago