Ana Macarini

Toda menina se apaixona. Mas só as mulheres são capazes de amar!

Estar apaixonada é uma das melhores formas de sentir-se viva. A paixão é uma capa invisível de poder. Sentimos todo o resto se relativizar à nossa volta. Rimos do tempo que passa, zombamos das responsabilidades, ignoramos o medo. Estar apaixonada é ter um riso frouxo e espontâneo nos lábios, e uma alegria que formiga a pele, faz a cabeça se confundir com as nuvens e a barriga ser invadida por uma revoada de borboletas no cio.

A paixão é um orgasmo em fluxo. As dores que antes eram o nosso foco, de tão negligenciadas, partem para um lugar distante e desconhecido. O interesse pelos dramas ao redor, nos escapa. O estado de contentamento é inebriante e quente. O frio da angústia passa ao largo, sem ter coragem ao menos de acenar. O mundo parece recolher-se num stand by voluntário; fica em suspenso, em respeito ao nosso êxtase emocional.

Toda menina sabe o que é apaixonar-se. Algumas vezes, o objeto da paixão nem ao menos sabe que essa paixão existe; e tudo bem… porque a fantasia é irmã gêmea da paixão; e, dentro do relacionamento delas, cabe até o enlevo unilateral, cabe o sonho de ser correspondido, cabe a crença no desejo de que se é possível tocar o outro com a nossa paixão, qual uma magia soprada no vento, capaz de fazer com que o outro se apaixone também.

Há paixões, que de tão devastadoras, não resistem ao primeiro incêndio. Queimam com a fúria de uma explosão nuclear, reverberam por todos os nossos sentidos, até reste apenas o silêncio do pós-gozo. Os nossos corpos exaustos mal podem respirar outra vez. Querem a paz de um descanso bem-vindo depois da tormenta. Querem recolhimento. Querem voltar a olhar para si mesmos, numa necessidade mútua de refazimento individual.

Quem nunca experimentou estar apaixonado, é como alguém sem capacidade de sentir o sabor de um grão de sal na língua. Primeiro a invasão pungente, depois o esparramar por toda boca e para dentro da garganta, até que num átimo de segundo, o cérebro reconheça o estímulo prazeroso e se coloque em alerta, ereto, vivo. Depois, o eco das ondas sensoriais reconhecidas que deixam a gente com lembranças vívidas e orgânicas. Estar apaixonado é ser invadido pelo mar, sem se afogar.

E é bom. É delicioso. É catártico. É explosivo. É colorido. É transformador! E absolutamente exaustivo. Ninguém sobreviveria a uma paixão eterna. O corpo entraria em colapso, a mente explodiria pela sobrecarga sensorial.
E é por isso, que a paixão passa. Passa a ser outra coisa. E, com alguma sorte e a disposição de dar um passo adiante, a paixão pode fazer essa menina amadurecer, florescer e desabrochar para o encontro com a verdadeira experiência do amor.

Se a paixão é um orgasmo em fluxo, o amor é a descoberta das preliminares partilhadas, do gozo de mãos dadas, do prazer que além de vida, traz também, a paz. O amor é a paixão que aprendeu a conversar com os olhos. O amor é a paixão que nos torna mais sensível para todo o resto. O amor nos ensina que é possível rir, chorar e rir de novo, tudo num mesmo encontro. O amor nos faz melhores, mais disponíveis para o afeto universal.

O amor tira o mundo do stand by e nos faz aptos a conviver com ele – o mundo -, dentro de nós. O amor não conhece parceiros desconhecidos. Ele pede intimidade, companheirismo, identidade, compromisso e intenção. O amor pacifica.

Quem nunca experimentou o amor, além de não ser capaz de sentir o sal da vida. Não é capaz de reconhecê-lo. Vive toda uma existência, conformado, fingindo acreditar que não vale a pena sair da caverna do isolamento pós paixão, porque ficou viciado na invasão do mar.

E… se estar apaixonado é bom, amar é o nirvana. Se a paixão é deliciosa, amar é uma experiência gastronômica na Tailândia. Se a paixão é explosiva, o amor é ser invadido por um exército de anjos de luz. Se a paixão é transformadora, o amor é a revelação da nossa versão mais essencial e intensa. O amor não exaure. O amor restaura.

E… “por ser amor, invade e fim!”.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme Como eu era antes de você.

Ana Macarini

"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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