Amores há de todo jeito. Pequeninos e inibidos, médios e habituais, enormes, intensos, impetuosos. Uns amores fazem cócegas, outros arrebentam paredes. Tem amor de todos os portes e todas as sortes. O amor pode ser sutil como música que toca baixinho, pode ser violento como o mar revolto, o tempo truculento que a tudo atropela, o vento sul que invade a casa, bate as portas, espalha papéis, eriça os pelos dos bichos.
Já os amantes, não. Todo ser amoroso há de ser de um tipo só: gentil! Irremediavelmente amável. Ou é outra coisa, com outros nomes. Amantes incapazes de gentilezas não são amantes. São farsantes, impostores ordinários, bestas sem controle. Animais irracionais babando ódio. Toda alma tocada pelo amor há de ser suave e generosa, sensível e bondosa. Do contrário está fingindo.
Ainda que o amor seja puro descontrole, o amante há de ser cuidadoso e cortês. Um amante é alguém no exercício franco de seu amor. Aquele que conduz o sentimento em si. Quando o amor é agitado e bravio, o amante é calmo e forte para levá-lo no caminho certo. Quem ama é gentil sempre. Quanto mais violento é o amor, mais resoluta e bondosa é a alma que ama.
Há por aí quem defenda modos bruscos, gestos agressivos, rompantes, condutas intempestivas como provas de amor. Balela! Isso não prova amor nenhum, só denota desejo de controle que sempre acaba em descontrole. Quem ama não aperta o braço, não ameaça, não coage, não reprime. Não combate nem enfrenta o ser amado como quem afronta um assassino. No máximo controla a intensidade do amor que sente, jamais a vida do ser amado.
Como o vento violento que ganha o céu, deita sobre as nuvens e adormece soprando em nós uma brisa mansa, que todo amor indômito encontre casa em almas fortes e gentis que o acolham, o abracem e o amem com ternura, paciência e imensidão até encontrar sua calmaria.
O amor pode ser violento. Os amantes, não. Jamais, nem pensar, de jeito nenhum. Amantes são almas gentis. O resto é falsificação grosseira.
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